O que ensina o latim...

"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Rel(v)es


O assunto Miguel Relvas é alvo da mais abrangente galhofa (eg: Governo Sombra, 16-2, precioso comentário aos 3’15’’), mas na realidade é um assunto muito sério.
Não vou discorrer muito sobre o tema, mas apenas tentar responder a uma simples questão: ao fim de tanto caso, de tanto pedido de demissão, de tanta impopularidade (último eg.), o que agarra Relvas à cadeira de ministro?
A lista telefónica é extensa!

Mesmo dado o perfil “camaleónico” da criatura, é inconcebível que a República tenha uma pessoa como tal sujeito a destiná-la.
Qual será o benefício para este executivo em ter um personagem daqueles como seu porta-voz? Vantagem não vejo nenhuma, o prejuízo é total!
Será a grande astúcia política do senhor? Não se têm visto grandes resultados, antes pelo contrário: a presença do homem constitui um factor de vergonha e contágio da imagem pública dos ministros mais competentes.
Será a capacidade de gerar consensos? A relação entre os partidos da coligação é a que se sabe; as relações com o PS não estão melhor.
Será a capacidade de controlar as bases do PSD e de distribuir males (ou bens, e bons tachos) pelas “aldeias” (ministros, autarcas e “boys”)? Não me parece: há certamente muita gente dentro (e fora) do governo capaz de o fazer sem problemas (é o que de melhor eles fazem!).

Então, no fim de contas, o que o mantém?
A minha resposta só tem uma palavra: Maçonaria.
O melhor exemplo disso foi aquando das acusações acerca da licenciatura “de vão-de-escada” do ministro Relvas. Quem veio de imediato defender o homem? Jorge Coelho, pois claro. Tudo dito!
Não me convence, nem nunca me convencerá, que sociedades secretas tenham nexo de existir numa sociedade democrática, senão forem para benefício da causa pública. Poderão haver serviços de informação, diplomacia económica, alianças estratégicas, etc., agora não concebo que continuem a agir sociedades como a Maçonaria que mais não servem senão para “sugar” oportunidades que os cargos públicos oferecem, recursos que neles são colocados ao dispor e usar em benefício dos “aventais” informações privilegiadas que lá se geram (seja informação económica, judicial, diplomática, etc.). O chamado rent-seeking.
Cozinha-se muito na Maçonaria

Construir um mundo pacífico, baseado na fraternidade, justiça, igualdade, liberdade e prosperidade, promovendo o conhecimento e propagando a ética, são sem dúvida intuitos nobres, que deram sentido à criação destas sociedades no Iluminismo francês. Contudo, ninguém hoje acredita que seja isso que os move (até porque muitos desses fins já foram atingidos).
E neste caso, só uma rede muito alargada de interesses impregnada na Administração, que envolva políticos (de quase todos os partidos), jornalistas, comentadores, advogados, juízes, banqueiros e empresários, permite que se mantenha no governo um homem sem escrúpulos, vergonha ou ideologia, que passa uma imagem criminosa da classe política dum país.
E, em último caso, manter tipos como Miguel Relvas, Jorge Coelho, Isaltino Morais, entre outros, na Maçonaria levará à sua implosão, se o País não implodir entretanto…

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Porque é que a Economia é mais interessante que a Política?

A resposta a esta pergunta é simples: os Economistas formulam opiniões com base em factos e dados concretos e os Políticos formulam opiniões com base no que lhes dá mais votos. E é este um dos principais problemas sociais e culturais de Portugal (maior ainda que o económico/financeiro), majorado pelo facto de que toda gente se acha no direito de expressar opiniões, que na maior parte dos casos são asneira! E porque é que são asneira? Simples, falta de informação e conhecimento acerca do que se comenta. Assim, ficam abaixo dois exemplos daquilo que se deve fazer e do que são bons (leia-se informados) opinion makers. [Aconselho vivamente a visualização de ambos os vídeos]

Exemplo 1) (Olhos nos Olhos, 18 de Fevereiro: http://www.tvi24.iol.pt/programa/4407) Presidente do IGCP (Instituto de Gestão do Crédito Público), João Moreira Rato, economista de formação e mais um retornado do governo de Passos (desta feita pela mão de Vítor Gaspar, visto estar até então na Morgan Stanley em Londres). Sob a temática do regresso de Portugal aos mercados com a emissão de 2500 milhões de euros em dívida soberana, ficou provado que o governo tudo tem a ganhar em explicar aos portugueses o que se está a fazer e como se está a fazer, principalmente se comunicado por quem sabe o que está a dizer... 

Exemplo 2) (Especial 24, 20 de Fevereiro: http://www.tvi.iol.pt/videos/13811645) João César das Neves, professor catedrático de economia na Universidade Católica Portuguesa. Acerca do seu mais recente livro "As 10 Questões da Crise", aborda diversos pontos da crise e da sua solução, bem como o debate da "Reforma do Estado". César das Neves afirma, entre outras coisas, que "em Portugal, as pessoas orgulham-se de fugir aos impostos" e (amén que não sou o único a ver isto!) que "a única maneira que resolver este problema é os portugueses perceberem que cada vez que alguém foge aos impostos, é do MEU bolso que sai!"

Perante estes dois exemplos, sinto cada vez mais que discutir política é um desperdício de tempo e que devemos debater economia, partindo do simples princípio que ter opinião é um direito, mas que expressa a sua tem também o dever de a saber fundamentar e de estar informado e ter o mínimo conhecimento acerca daquilo que está a dizer. Se não sabe, leia, informe-se, pergunte a quem sabe mais. Se sabe, recolha informação, pense, considere todos os factos.

Acho que já é tempo de retirar "antena" aos demagogos que apenas querem votos e tacho e dá-la a quem tem ideias, a quem relata factos e a quem apresenta soluções. Que se lixem os sindicatos e as suas greves, que se exaltem os trabalhadores que aceitam fazer sacrifícios para manter as empresas onde trabalham abertas e a produzir, que se exaltem aqueles que têm (perdoem a expressão) tomates para deixar o subsídio de desemprego para arriscar tudo enquanto empresário! Que se dê valor a quem o merece e que se despreze quem nada faz.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O que pergunta um aluno logo após a sua primeira aula de Monetary Policy?

I was wondering about our first lecture, in particular the much higher interest rates charged in Portugal and the explanation you advanced for such. Correct me if I am wrong, but I gathered the bulk of your argument relied on the contamination of the sovereign's risk into the assessment of the banks' risk, thus increasing their funding costs and in consequence transferring those increased costs into the interest of the credits they supply to the economy at large. I'm guessing this is a spill-over effect. 

Taxas de juro nos empréstimos (1-5 anos) a empresas não-financeiras
You suggested one way of testing this hypothesis by hinting at the ratings. If I were to look for evidence of this hypothesis, I would look at the correlation between differences in rating for each country's bonds and the spread for loans to non-financial corporations, taking Germany as the reference. I have the sensation reality would fail this test, as I imagine Ireland and Portugal have very similar ratings and yet very different spreads. Even if one were to look at the yield of government bonds for those two (not sure which maturity), it would still fail to explain Portugal's case in a large degree.

This, in my view, suggests there are internal factors at play. For instance, we noticed that even before the crisis bloomed, Portugal had consistently the highest interest rate in the sample. So, whatever factors were justifying that spread back then may have been exacerbated by the turn of events. 

I can imagine that if there's a very bleak perspective for the Portuguese economy and most enterprises have their business geared towards the internal market, that would make those enterprises riskier and therefore we would see higher interest rates being charged, thus explaining the large spread even if partially. But, in such a case, we would see lower interest rates for exporter enterprises and a similar situation in similar countries. I can't test that now. Also, this wouldn't be a case for fragmented markets,

I am bringing this up, for I would just like to know which factors are contributing to the large spread for Portugal, besides the contamination of the sovereign's risk.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Primeira via


Nunca como hoje a livre expressão foi tão valorizada. Tem-se verificado, principalmente desde a segunda metade do séc. XX, a generalização da democracia: primeiro na Europa centro-ocidental, mais tarde na Europa de leste e do sul. Acresce, no começo desta década, a aparente vontade de democratizar sociedades, cuja organização sócio-cultural nunca foi propícia para tal. Assim se viram os acontecimentos da “Primavera árabe”, mas que o tempo provará (como já hoje prova) que mudaram pouco mais do que as lideranças dum poder “musculado”.
Sócrates, que não José
No caso português, muito se salienta a “Liberdade” “conquistada por Abril” (as aspas acentuam o facto de serem expressões usadas recorrentemente). Contudo, não se pode dizer propriamente que os níveis de participação cívica sejam elevados. Há uma clara indiferença dos cidadãos em geral para as questões do país, desde que elas não interfiram directamente com o seu bolso e os seus “direitos”. E mesmo quando essa intervenção acontece, pela opinião escrita ou expressa, nos cafés ou nos fóruns da rádio, é feita irreflectidamente, com conhecimento deficiente dos pontos em discussão, papagueando frases feitas e argumentos repetidos.
Acresce ademais o descrédito face à actividade dos agentes políticos, que semearam ao longo de anos promiscuidades e compadrios que afectam decisivamente o interesse da comunidade.
Ainda assim, creio que esta não é a tendência que se verifica entre os estudantes. A militância nas “J”s partidárias, empurrada pela convicção de que essa é hoje fonte determinante para se “ser alguém” em Portugal, e não tanto por convicção ideológica, mobiliza o empenho “cívico” daqueles. Acho, paradoxalmente, que tal é feito do mesmo modo dos que opinam por opinar: sem informação, nem reflexão.

O excesso de posições “alinhadas” que a partidocracia gerou levou-nos a criar este espaço. Espaço onde se pretende valorizar a livre crítica e as ideias próprias, fundamentadas por cada um, abrindo espaço ao contraditório.
Sendo ainda assim um espaço particular, julgamos ser esta a primeira via para que os jovens em primeiro, e a restante sociedade civil depois, tenham um papel mais decisivo no rumo que queremos para Portugal.

Nota: Os textos expostos no Tricontraditorium representam apenas as posições dos autores que os publicam, não comprometendo aos demais.