Nunca como hoje a livre expressão
foi tão valorizada. Tem-se verificado, principalmente desde a segunda metade do
séc. XX, a generalização da democracia: primeiro na Europa centro-ocidental,
mais tarde na Europa de leste e do sul. Acresce, no começo desta década, a
aparente vontade de democratizar sociedades, cuja organização sócio-cultural
nunca foi propícia para tal. Assim se viram os acontecimentos da “Primavera
árabe”, mas que o tempo provará (como já hoje prova) que mudaram pouco mais do
que as lideranças dum poder “musculado”.
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Sócrates, que não José |
No caso português, muito se
salienta a “Liberdade” “conquistada por Abril” (as aspas acentuam o facto de
serem expressões usadas recorrentemente). Contudo, não se pode dizer propriamente que os níveis de participação cívica sejam elevados. Há uma clara indiferença dos cidadãos
em geral para as questões do país, desde que elas não interfiram directamente com
o seu bolso e os seus “direitos”. E mesmo quando essa intervenção acontece, pela
opinião escrita ou expressa, nos cafés ou nos fóruns da rádio, é feita
irreflectidamente, com conhecimento deficiente dos pontos em discussão, papagueando
frases feitas e argumentos repetidos.
Acresce ademais o descrédito face
à actividade dos agentes políticos, que semearam ao longo de anos promiscuidades
e compadrios que afectam decisivamente o interesse da comunidade.
Ainda assim, creio que esta não é
a tendência que se verifica entre os estudantes. A militância nas “J”s
partidárias, empurrada pela convicção de que essa é hoje fonte determinante
para se “ser alguém” em Portugal, e não tanto por convicção ideológica, mobiliza
o empenho “cívico” daqueles. Acho, paradoxalmente, que tal é feito do mesmo modo dos
que opinam por opinar: sem informação, nem reflexão.
O excesso de posições “alinhadas”
que a partidocracia gerou levou-nos a criar este espaço. Espaço onde se pretende
valorizar a livre crítica e as ideias próprias, fundamentadas por cada um, abrindo espaço ao contraditório.
Sendo ainda assim um espaço particular,
julgamos ser esta a primeira via para que os jovens em primeiro, e a restante sociedade
civil depois, tenham um papel mais decisivo no rumo que queremos para Portugal.
Nota: Os textos expostos no Tricontraditorium representam apenas as posições dos autores que os publicam, não comprometendo aos demais.