O governo anunciou que a taxa do
audiovisual (para financiar a RTP, através da factura da electricidade) vai
aumentar. E surgem rumores de que o aumento poderá chegar aos 20% (já dizia
S. Tomé, é “ver para crer”). Não está em causa o valor per capita que se paga para dar 50M€ à RTP (2€/pessoa não me parece
muito), está sim o conceito de cobrança e a transferência de responsabilidades do
Estado para os contribuintes (para não variar).
Esta notícia vem relacionada com uma outra: o Estado quer cortar metade da indemnização compensatória devida à RTP, em contrapartida do “serviço público” prestado.
Fui recorrer a algumas noções de
fiscalidade para me elucidarem: uma taxa é a “prestação que se exige dos
particulares que utilizam um serviço público” (segundo informa a Infopédia,
citando o Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora, 2003-2013),
enquanto um imposto é um tributo exigido “pelo Estado a pessoas singulares e
colectivas para fazer face às despesas públicas” (segundo a mesma fonte). Ou seja,
o pagamento de uma taxa consigna-se a custear o serviço directamente prestado
pela entidade pública, enquanto o destino de um imposto não está pré-determinado
no momento em que ele é pago (ninguém pode exigir que o seu IRS seja usado para
pagar os salários dos professores da escola pública do filho, por eg).
Ora, se a contribuição do
audiovisual tem de ser paga na factura de electricidade, toda a gente que tenha
luz em casa (felizmente hoje em dia quase 100% das casas) tem de pagar a taxa
do audiovisual. E as casas que não tenham televisão, pagam a dita coisa na mesma?
Pagam pois! E o serviço prestado, qual é nesse caso? Nenhum! (Não acredito que
hajam muitas “primeiras” casas sem TV, mas bastantes “casas de férias” não a
têm.)
Ou seja, esta coisa a que chamam “taxa”
não é taxa coisíssima nenhuma, porque a todos obriga pagá-la, quer queiram quer
não, quer tenham TV em casa quer não tenham, quer gostem da grelha programática
de “entretenimento” da RTP1 quer não, quer achem muito ou pouco o que ganham tão
singelos “servidores públicos” como o
Malato, o Fernando Mendes ou a Catarina Furtado, quer apreciem a independência
dos telejornais da RTP quer não, quer sigam ou ignorem as duzentas horas
semanais nos canais públicos dedicadas ao comentário do comentário de futebol,
quer assistam ou não à maré de “comentário político” e “debate” que assolou os
canais públicos, e assim por diante.
O que o Estado está a fazer é simplesmente
transferir para os cidadãos a responsabilidade de suportar uma empresa indistinta
e endividada, sem que daí haja contrapartidas para os mesmos (aliás, o “serviço”
tende cada vez a ser pior). E é no fundo com estas “migalhas” que se constrói um
país onde o Estado sufoca as pessoas e organizações com impostos e afins, burocracia
vária e paralisante e serviços inúteis quando não inoperantes.
Depois apelidam Passos Coelho e
C.ª de serem neoliberais (ie, aqueles que defendem a absoluta liberdade dos
mercados, não condicionamento da iniciativa privada e a reduzida intervenção
estatal sobre a esfera económica, com um sistema fiscal “suave”).
Este governo não sabe fazer mais
nada senão engendrar maneiras de pôr tudo o que mexe a pagar imposto. Não é “neoliberal”
em nenhuma parte do mundo. É sim verdadeiramente estalinista, ao nível
tributário.
Esqueceste-te da Manuela Moura Guedes.
ResponderEliminarNa medida em que não faço ideia quanto ela ganha, não me esqueci. Mas, como tal "estrela cintilante" não deve ganhar pouco, talvez tenhas razão!
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