Como é sabido, realizam-se no
próximo dia 28 de Setembro as primárias que elegerão o “candidato a
primeiro-ministro”, por parte do Partido Socialista, às Legislativas de 2015.
Não venho para aqui discutir a
campanha, as “propostas”, o “messianismo” dos candidatos, as “traições”, os
“debates”, o falatório, as birras, os “apoios”, as federações e
essa estirpe de coisas que entretém os noticiários e que, no fundo, não são
nada de novo nesta democracia com pouca alternativa e muita alternância. Venho,
sim, como militante
que sou da intervenção cidadã e da independência de raciocínio, deixar um
comentário às críticas que o processo tem merecido por parte de algumas pessoas
(como foi o caso de António
Barreto).
A maior crítica apontada às
eleições primárias é a de que elas representam a incapacidade das estruturas
internas dos partidos de decidir o melhor para o país. Mas, durante anos a fio,
estes mesmos partidos assistiram impávidos à sua própria descredibilização,
exactamente à conta da excessiva “capacidade” em proceder a essas escolhas,
ignorando sem apelo nem agravo (como ainda hoje se ignora) o contributo de
movimentos de cidadãos independentes, petições e iniciativas afins. Tendo,
também e evidentemente, outras causas, este monopólio de decisão dos partidos
(internamente e na Assembleia da República) resultou no que hoje se vê como o maior
alheamento por parte dos cidadãos que há memória desde 1974.
António Barreto diz que esta
iniciativa «é o mais forte ataque à democracia portuguesa». Bom, não consta que
os Estados Unidos da América, onde a eleição presidencial é precedida de
primárias no Partido Democrata e no Partido Republicano, seja uma democracia
fraca. Muito pelo contrário. Não haverá provavelmente no Mundo (sem conhecê-las
a todas) democracia em que os cidadãos se mobilizem tanto como naquela, seja em
causas políticas ou humanitárias.
No entanto, há uma crítica de
Barreto que eu partilho e que entronca num imbróglio jurídico por resolver.
Nestas eleições, está em jogo o “candidato a primeiro-ministro” e não o
secretário-geral do PS. Ora, sucede-se que, na Constituição Portuguesa, as
eleições legislativas não elegem o primeiro-ministro. Elegem deputados para a
AR, por representação proporcional, em listas distritais apresentadas pelos partidos concorrentes. Dados os
resultados eleitorais, os deputados eleitos (ou melhor, os partidos por eles)
indicam ao Presidente da República uma pessoa (normalmente, do partido mais
votado) que o indigita, ou não, para formar governo.
Ou seja, na prática, estas primárias
não servem de nada. Dependem sempre de uma “declaração de princípio” por parte
do líder do PS: primeiro passo, ceder o lugar (estatutariamente, sabe-se lá
como...) ao vencedor dessas eleições (que pode ser o anterior ou um novo) e, segundo
passo, comprometer o partido a indicar o vencedor dessas primárias para formar
governo (caso o PS seja o mais votado nas legislativas). Tirando este pequeno
grande pormenor, esta abertura do PS só pode ser benéfica para a
democracia.
Não se pode, pois, criticar os partidos
por nada fazerem para inverter o descrédito em que caíram e, ao mesmo tempo,
contrariar as suas iniciativas para se abrirem à “sociedade civil” e a outros movimentos!
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