O que ensina o latim...

"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Não há nada como o bom senso

Tenho ficado muito bem impressionado com o líder da UGT, Carlos Silva, eleito há 3 meses, em substituição do, perdoem-me, padre Proença.
Carlos Silva tem-se pautado pela cautela e ponderação nas suas intervenções, apresentando sempre uma postura muito humilde, educada e institucional, coisa rara entre sindicalistas como se sabe. Tem mais uma vantagem sobre todos os outros: tem vida para lá do sindicalismo.

Embora confessando-se militante do PS e, até, fã de Mário Soares e, numa altura em que a canzuada Soarista ladra como senão houvesse amanhã, o líder da UGT destaca-se por ser o único, no meio de tantos famintos de poder, a entender o estado excepcional em que Portugal está metido. Não tem problema em considerar meritórias algumas medidas do Governo se elas o forem, mesmo que não seja este o seu governo. O que começa a dar frutos.
Não o escrevo por apoiar o Governo numa ou noutra medida em concreto, coisa que não é critério para mim, mas só a postura do senhor é algo que me agrada à partida. Veremos se a mantém à chegada....

domingo, 28 de julho de 2013

Armadilha de Liquidez [gráficos]

A pedido de muitas famílias, venho publicar os gráfico de uma armadilha de liquidez à la Krugman e à la Keynes. Na última vez que abordei o assunto, esqueci-me de recorrer a gráficos para transmitir as diferenças. Faço-o desta vez e aproveito para recapitular o assunto.

Em Keynes, a armadilha de liquidez é caracterizada pela indiferença dos agentes económicos entre obrigações, que rendem juro, e moeda, que não rende juros. Por esta razão, o aumento da oferta de moeda não tem um efeito expansionista. Por muito que o Banco Central aumente a oferta, o público reage com um igual aumento na procura de moeda. Dito de outro modo, o público quer, ou está disposto a, guardar uma quantidade infinita de liquidez junto de si.

Esta situação é representada por uma LM (a curva que une os pontos de equilíbrio no mercado monetário) horizontal. Daqui é costume dizer-se que uma economia está na parte horizontal da LM numa armadilha de liquidez.

Nesta situação, um aumento da massa monetária (LM') não exerce nenhum efeito. É necessário um aumento da procura agregada (IS')  para reconduzir a economia de volta ao seu potencial (Yp).

O mais provável é este tipo de situação ocorrer a níveis muito baixos da taxa de juro real. 
Armadilha da Liquidez - Keynes

No caso do Krugman, temos uma armadilha da liquidez quando a taxa de juro natural, aquela que repõe o pleno emprego, é negativa. A ineficácia da política monetária surge da restrição em que as taxas de juro nominais não podem ser negativas, a zero lower bound.

Represento esta situação recorrendo ao modelo IS-MP, em que o Banco Central tem um controlo perfeito sobre a taxa de juro (daí a curva do mercado monetário ser horizontal). E neste caso, a taxa de juro compatível com o pleno emprego é negativa. Se um Banco Central for até ao seu limite, e colocar a taxa de juro directora a 0, mesmo assim não vai ser possível devolver a economia ao seu pleno emprego.

Naturalmente, para regressar ao pleno emprego, o uso da política orçamental é extremamente eficiente e à política monetária só resta o uso de instrumentos não-convencionais, como o quantitative easing ou gestão de expectativas.
Armadilha da Liquidez - Krugman

E cá estão os gráficos da armadilha da liquidez segundo o Keynes e o Krugman.

Se quiserem representar o caso do Krugman no IS-LM, é só trazer a porção horizontal da LM para os valores negativos de r e terem a certeza que a IS cruza a LM quando esta é horizontal. Mas essa representação não é do meu agrado.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Os seguros da minha intranquilidade

Tal como eu próprio tinha vaticinado muito antes de sonhar com a balbúrdia política das últimas semanas, não houve acordo tripartido nenhum.
O fracasso de tal iniciativa, que acaba por ser o do próprio Cavaco, embora reconheça a inédita toma de riscos, deveu-se essencialmente ao contexto em que o PS se encontra e à própria filosofia dos partidos em Portugal, com destaque para o socialista: só avançam para acordos quando lhes convém, ou quando é mesmo impreterível.


O PS vive mergulhado em três indecisões fundamentais.
A primeira das quais (e aquela que mais deveria pesar na sua acção política) a assinatura do memorando da troika. O Partido Socialista não pode, seriamente, ser contra a troika, quando foi o próprio, então no governo, que promoveu e co-assinou o contrato da assistência externa. Contudo, o partido, e as próprias figuras do governo anterior, têm ensaiado, nestes dois últimos anos, forçar a nota junto das entidades externas, o que é, no mínimo, desonesto e, no máximo, irresponsável. Se é assim, porque não o fizeram logo de início em 2011? A resposta só pode ser: não estavam na oposição.
Em segundo lugar, enquadrado pela indecisão anterior, o partido vive na dúvida existencial: tentar aproximar-se da sua esquerda, com a qual tem muito pouco a ver em responsabilidade, história e ideologia, ou convergir com a direita, o que em Portugal é mal visto.
Recentes acontecimentos ajudaram a dissipar algumas destas dúvidas. No meio das negociações do "arco do poder", o BE pediu ao PCP e PS uma ronda de conversações para um futuro governo de coligação. O resultado foi tão brilhante que as conversas foram de imediato terminadas (veja-se que, a título de exemplo, para o Bloco é urgente a saída da NATO – tema candente e prioritário entre nós, como se sabe!). Como bem escreveu João Miguel Tavares no Público da passada quinta-feira (18/7), "ver o Bloco pedir a abertura de uma ronda de negociações com PS e PCP, com vista à formação de um futuro governo de esquerda, é como ver um porco, não só a andar de bicicleta, mas a ganhar a Volta a França".
Em paralelo, as conversações com a direita foram abruptamente acabadas por um motivo espúrio e ainda mal explicado, quando, ao fim de uma semana de conversas (!), pareciam encaminhadas para um resultado inédito, por mínimo que fosse.
A terceira indecisão que atormenta o Partido Socialista é a do seu secretário-geral. António José Seguro treme a cada vez que é forçado a tomar uma decisão. Como li na Sábado de há duas semanas (11 a 17 de Julho), o líder socialista é um hesitante por natureza e teme o "confronto com pessoas muito inteligentes" (cito de cor). À primeira vista não é difícil de perceber porquê...
Mas, para além desta que lhe corre no sangue, inSeguro é avassalado pela indecisão "salvar o país vs. salvar-se a ele mesmo e ao partido". Ora, um líder partidário que escolhe em permanência a segunda opção, principalmente neste momento histórico e tendo em conta o que escrevi acima, não pode governar um país com oito séculos de história. Um líder que não se sente encorajado a decidir por ele mesmo, que deixa que outros respondam por ele, que teme Costa, Soares, a sua tropa-fandanga e a Maçonaria e que não sabe exactamente o que quer, é um inepto, um incompetente, não serve para nada.


Eu desejaria um PS responsável, que estivesse à altura da sua importância histórica, que fizesse oposição a uma maioria cheia de buracos, que soubesse exactamente para onde quer ir e que fosse liderado por um tipo competente, inteligente, culto e determinado.
Bem que tenho procurado nas empresas seguradoras, mas infelizmente não me oferecem nada disso!


terça-feira, 16 de julho de 2013

Politiquices...

Como o Júdice explicou na Primeira Via, somos um "espaço onde se pretende valorizar a livre crítica e as ideias próprias, fundamentadas na matriz ideológica de cada um, abrindo espaço ao contraditório."  Assim, depois de ter lido as publicações de ambos os meus companheiros de blog (De Gaspar a CavacoA Golpada Intelectual), achei que ainda tinha algo a acrescentar sobre o tema.

Antes de mais, um parêntesis: agradecer aos leitores que participaram na nossa sondagem, que revelou que quem nos segue concorda com a intervenção do Presidente da República (seja pela via tecnocrata, seja pela via política) na formação de um novo governo (24 dos 49 votos obtidos). Esperemos que esta "iniciativa" seja a primeira de muitas.

Quanto aos desenvolvimentos políticos das últimas semanas, creio que existem vários pontos que merecem destaque, a saber:

1) A ser verdade que Vítor Gaspar pediu a demissão após ter sido insultado, juntamente com a sua família, num supermercado junto à sua residência, condeno quem o insultou, porque independentemente da posição política/ideológica/social de cada um, esta é uma das atitudes que deve ser transversalmente condenada. Assim, nunca uma democracia pode evoluir.

2) Acho que o governo e o país saem a perder com a troca nas Finanças, Gaspar dava maiores garantias que Albuquerque, principalmente depois do caso "Swaps".

3) Aplaudo de pé a atitude do CDS perante Portas, mostrando-lhe que o tempo em que PP era sinónimo de "Partido do Portas" acabou e que o CDS é agora muito mais do que Portas e que deixou de se submeter às suas "birras". O CDS deixa assim de se centrar numa figura e passou a ser um partido "a sério", do mesmo modo que cada vez se posiciona mais ao centro, entre PS e PSD.

4) Cavaco dirigiu-se ao país, pediu eleições para o "pós-Troika", com acordo de Salvação Nacional entre PSD, CDS e PS (quem assinou o memorando). Concordo plenamente que Cavaco deixe de fora BE e PCP: quem não quer ter o trabalho de semear, também não pode colher os frutos.

5) Cavaco leu bem a situação e a necessidade de um acordo alargado. A meu ver, escolheu mal o timming. Salvação Nacional era necessária para fazer cumprir o memorando, não depois de ele estar cumprido e o difícil estar feito. Além de que, a haver eleições, PSD e CDS serão penalizados por 3 anos de memorando (as eleições serão daqui a um ano), enquanto que o PS (e a restante esquerda) tem tudo a ganhar com o desgaste do governo.

6) Cavaco deveria ter feito mais uma exigência aos partidos: mudarem de liderança. O PSD pelo desgaste de Passos, o CDS pela birra de Portas e o PS pela incapacidade de Seguro. Se me pedissem 3 nomes, seriam Paulo Rangel (já que Rio passa a vida a dizer que não), Nuno Melo (para mim o sucessor natural de Portas, desde à muito) e António Costa (desta vez Portugal fala mais alto que a Câmara de Lisboa).

7) Falta saber quem liderará este governo de Salvação Nacional, quem ganhar as eleições ou alguém da confiança do Presidente da República (político ou tecnocrata). Esta última é mais complicada de gerir, porque em 2016, Cavaco Silva deixa Belém e o próximo PR (quem quer que venha a ser) pode retirar a confiança ao líder do governo (que não teria legitimidade política - o resultado das eleições - para se manter à frente do governo).

8) Temos um governo que "se encontra na plenitude das suas funções", mas que sabe que tem um prazo de validade inferior ao que os eleitores lhe deram. O que vai ser dele?

9) Se esta solução cavaquista resultar, coloca-se outra questão: até que ponto uma mudança de regime (parlamentarista para presidencialista) pode evitar alguns dos problemas institucionais que temos tido ao longo dos anos e ajudar a resolução dos problemas do país?

Assim, com o tempo teremos todas as respostas a estas questões. Espero que o apelo do PR seja ouvido e que se coloque o superior interesse nacional acima das disputas partidárias.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Governo patriótico e de esquerda

 O camarada Miguel Tiago (“um deputado comunista que exibe regularmente em versão hooligan-pintarolas a ortodoxia do partido”) fez na sua página de Facebook, no já longe 8 de Abril de 2013 (do séc. XIX, atenção!), uma demonstração genuína do que podemos esperar se embarcarmos nas fantasias que ele oferece.



(As citações vêm a azul, seguidas de breves comentários)

“A corja que despreza a constituição que se ponha a pau.” – Isto começa logo bem. Já dizia o Ótelo: só são precisos 800 homens…
“(…) se o meu direito à saúde, educação, pensão, trabalho, habitação, não valem nada (…)” – A habitação não precisa de vírgula nenhuma à sua frente, basta uma porta com uma fechadura de jeito para ficar segura! Mas, de facto, pensei que o PCP até pagava qualquer coisinha aos camaradas do Comité Central: então, deixam o homem a viver na rua?!
“(...) então, também os seus direitos à propriedade privada, ao lucro, à integridade física e moral deixam de valer!” – Vamos embora, camarada! Os lucros da próxima Festa do Avante! são para mim, boa?! E prometo: não te bato, se acordarmos a bem. No caso contrário não to consigo garantir…

Pensem duas vezes antes de embarcarmos nesta frota, antes que isto vá parar a Lampedusa!


Nota: vale muito a pena ler a Carta aberta a Miguel Tiago, deputado criminoso da nação, de José Maria Barcia.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

De Gaspar a Cavaco: a síntese de uma semana caótica

Portugal tem vivido tempos interessantes nos últimos anos, e na última semana tivemos direito a um bónus. O impensável aconteceu e o Governo ruiu por dentro.

O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, o timoneiro nesta tormenta, demitiu-se. No dia seguinte, para surpresa de tudo e todos, seguiu-se Paulo Portas, líder de um dos partidos da coligação.

Abraços com esta crise interna, o Primeiro-Ministro fez o seu melhor para evitar a queda do Governo. Seguiram-se dias de indefinição, enquanto Portas e Passos delineavam um novo acordo. Neste acordo, era patente um reequilíbrio de forças entre Economia Finanças, pesando para o lado da Economia e do CDS.

Com este pano de fundo, o Presidente fez uma declaração ontem à nação. Ou ele aceitava o novo acordo entre o CDS e PSD, ou rejeitava-o e convocava eleições. Ele não fez nem uma coisa nem outra.

O Presidente começou o seu discurso avisando-nos sobre as consequências de novas eleições, nomeadamente a perda dos ganhos conquistados com os sacrifícios dos últimos anos e das eleições não sair um evidente partido vencedor. Posto isto, ele afirmou claramente que preferia um "compromisso de salvação nacional" por parte dos partidos que assinaram o Memorando de Entendimento e que teríamos eleições no final da execução do Memorando, Julho de 2014.

Do meu ponto de vista, o Presidente está a empurrar o  Partido Socialista contra a parede. Um empurrão merecido, porque trata-se da mesma parede que o PS se tinha colado quando assinou o Memorando e descolou-se passado um mês, se tanto, para entrar em campanha. Está na altura do PS reconhecer que assinou o Memorando, que a austeridade qb. é necessária e contribuir para a estabilidade política do país.

Mas, enquanto o PSD e o CDS acolheram a proposta do Presidente prometendo a análise devida, o PS rejeitou-a liminarmente sem  novas eleições. Era a atitude mais provável dado o discurso do Seguro nos últimos meses, mas não deixa de ser uma atitude incorrecta. No novo acordo do Governo já existia aquilo que o PS desejava: uma maior atenção para Economia em detrimento das Finanças. Que o PS tenha rejeitado sequer discutir este compromisso, sugere que ele irá cavalgar as próximas eleições rejeitando ou diminuindo o papel político da austeridade. Só resta saber qual é o país maravilha que o PS propõe governar.

Agora, o que me intriga é o facto de todos terem saltado para o barco do "Governo do Bloco Central + CDS". Talvez porque sugeriu-se "uma personalidade de reconhecido prestígio que promova e facilite o diálogo". Mas, o Presidente pediu um compromisso de salvação nacional, não um Governo de salvação nacional. Tanto quanto isso me diz, pode existir apenas acordos parlamentares entre os três partidos. É o suficiente para alterar a narrativa política e promover a estabilidade política.

E quanto ao acordo do CDS e PSD para salvar o Governo? Do Presidente nem uma palavra. No final do seu discurso, ele insinua que nenhuma solução é melhor do que a ele propõe, pelo que os portugueses devem estar preparados para atribuir responsabilidades aos agentes políticos, ou seja, eleições. Mas é a minha convicção, que embora o novo acordo de Governo seja a seu contragosto, ele aceitá-lo-á.

No global, o Presidente fez uma intervenção inesperada e de grande calibre político. Ficou obviamente amargurado com as situações da última semana, e portanto subiu o nível de exigência e começou a exigir responsabilidades a todos.

Pode ler na íntegra o discurso do Presidente aqui.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A golpada intelectual

Em resposta ao golpe de teatro do "entra-e-sai" exibido na Barracada na semana passada, Cavaco respondeu com um golpe de Estado. Os partidos portam-se mal (já agora quando foi a última vez que se portaram bem?), o que faz o Presidente? Toma o poder basicamente.


Depois de ouvir uma catrefada de gente (partidos, sindicatos, confederações patronais e até o governador do BdP), o que concluiu Cavaco?
  1. Concluiu que este governo será incapaz de resolver qualquer problema que seja, porque é um governo instável e sem rumo coerente.
  2. Concluiu que é tão indispensável, como urgente, um acordo entre os três principais partidos para uma estratégia nacional a longo-prazo.
  3. Concluiu que com estas lideranças partidárias não vamos a lado nenhum, de tal maneira que propôs uma “personalidade de reconhecido prestígio" para liderar o diálogo entre partidos.
  4. Concluiu que não faz mal algum ter um governo a prazo durante um ano (“um governo de gestão”, como lhe chamou António Costa), sem se saber que governo será, até eleições antecipadas no início do pós-troika (Junho de 2014).
  5. Concluiu que eleições antes disso nem pensar, porque temos cá a troika. Diz ainda assim que "o atual governo se encontra na plenitude das suas funções".
Trocando tudo por miúdos (já agora, detesto esta expressão), o que o PR quer é um governo do tipo Mário Monti, de iniciativa semi-presidencial que leve para o poleiro tudo o que é partido interessado em governar.
Trocando ainda mais (seja lá pelo que for), Cavaco quer entrar para a história como o tipo que, no meio do caos político-económico, de lideranças sem categoria e que aparentemente não se dão bem (?), num país intervencionado e com uma Europa maneta, conseguiu promover um consenso alargado "de salvação nacional" para quando os senhores da troika derem à sola. Ou seja, salvem-lhe a pele, nunca o país!


Ficam muitas perguntas por responder:
  1. Até onde vai a "plenitude de funções" do actual governo, se ele tem um prazo de validade definido pelo próprio PR e se este quer lá outro?
  2. O que fará Cavaco se Passos não aceitar esta tenda e se demitir, continuará sem convocar eleições por causa da troika?
  3. Ou se, caso contrário, Passos Coelho aparecer em Belém com a remodelação do governo já acordada entre partidos, Cavaco não a aceita?
  4. O PS e Seguro, desde sempre interessados em sacudir a água do capote, que andaram a exigir que só querem acordos depois de eleições, como poderão aceitar a proposta de Cavaco?
  5. Que personalidade neste país tem "reconhecido prestígio" que seja consensual entre os partidos? Fala-se à saciedade em Silva Peneda do Conselho Económico e Social - mais um habilidoso da nossa praça.

Cá para mim, estes "consensos" nunca dão em coisa nenhuma. Mudar exige mexer com interesses instalados e poderosos. Poder-se-ia pensar que quanto maior a base de apoio do governo, maior o seu "poder negocial" para mexer com interesses. Mas, na realidade, o efeito é perverso: juntar PS, PSD e CDS no mesmo governo é tirar oposição ao mesmo, ou entregá-la a grupos anti-regime (como é o caso do PCP), e permitir que sejam os próprios interesses a governar o país. Conclusão: nada muda. Para além disso, acordos destes nunca são duradouros. E se estes agentes políticos não os conseguiram alcançar até hoje, porque os alcançarão no futuro?
Contudo, nunca percebi aquilo que verdadeiramente de facto separa as lideranças partidárias: até consta que Passos e Seguro são amigos próximos. A divergência é fantochada, mais nada.
Eu acreditava muito mais no governo remodelado na semana passada (“o governo do CDS”, como lhe chamou José Eduardo Martins) do que no dos últimos dois anos.
Passos é um tipo sem cabeça, Gaspar era um tipo sem mundo e Relvas era um tipo da máfia. Embora Portas seja um bailarino confesso, é muito mais capaz do que Passos, pelo que pôr o primeiro a governar o país me traria mais garantias.
Mas agora, Cavaco foi buscar esta solução pífia que vai acrescentar incerteza e instabilidade. Faz deste governo um fantoche, um executivo em gestão durante um ano, o que era tudo o que nós não precisávamos. Para além de que dá a possibilidade a grupos anti-democráticos de ganharem terreno, caso o PS aceite a brincadeira.
Uma golpada esperta neste regime.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Políticos da bola

A actual caótica-ridícula-obnóxia-cómica situação política só tem paralelo nas novelas mexicanas e do defeso futebolístico, que vendem centenas de milhares de jornais temáticos.
No meio do corrupio de "comentadores" e "debates" a estas actualidades, aparece volta e meia uma (pouca) gente que diz coisas com cabeça e outra que lançam piadas (com graça) sobre o assunto. E neste campo o Inimigo Público dá 10 a 0 a todos.
Ontem, então, fomos surpreendidos com um golpe palaciano, até o primeiro-ministro, diz ele, ficou de boca aberta. "Portas deixa governo e assina pelo PS por quatro épocas", podia ler-se.
 
Nos extremos da desgraça

Para quem não o conhece, Paulo Portas é um ala-direito veterano, que joga por antecipação, muito mais inteligente do que a média dos jogadores, com grande visão de jogo, capaz de pautar o seu ritmo ao sabor das conveniências e com grande qualidade de passa-culpas. Ataca e defende, ora na direcção da baliza do PS, ora na direcção da do PSD, conforme dá jeito. É o género de jogador que se atira para a piscina quando algum adversário lhe toca e, mesmo quando é ele a cometer falta, queixa-se ao árbitro, dizendo que a culpa foi do outro.
Desta vez, o matreiro jogador viu-se novamente envolvido em polémica. Joga desde há 2 anos no PSD, embora diga que só assinou por eles porque não havia outra escolha. Tinha contrato por mais 2 anos, mas entretanto alegou que não o consultaram na remodelação do plantel. Vai daí, rompe o contrato e assina pelo PS, principal adversário, presumivelmente para os 4 anos seguintes a contar do início da próxima época.
Por seu lado, o PSD sente-se prejudicado no “negócio”, porque fica de mãos a abanar. Diz que o próprio jogador aceitou os moldes dessa remodelação.
O treinador, cada vez mais assobiado pelos adeptos e sem autoridade no balneário, veio dizer que o veterano jogador não se vai embora coisa nenhuma, porque senão a equipa fica sem asa direita (dos 11 jogadores, há mais 2 que seguirão o caminho do dito fulano).
O presidente do clube, longe de ser consensual entre os sócios, tem o dever de zelar pela estabilidade da equipa, é cobarde e acha agora que o problema não é com ele e que a equipa até não jogou mal nos dois últimos anos e os jogadores dão-se todos bem.
A situação chegou a um impasse. Ou o presidente chama a si a responsabilidade de despedir o treinador e ir buscar um novo com os jogadores que tem. Ou decide mudar tudo, inclusive o plantel. Ou apela à equipa para que os jogadores se entendam com o treinador.
Os adversários, já se sabe, não estão disponíveis para ajudar e fazem figas para que o clube seja implodido. Ganham todos com isso, a começar pelo principal deles, o PS, que reforça o seu plantel e tudo com a instabilidade do clube.
A questão que agora se põe é: como é que o treinador vai lidar com 1/3 da equipa que se quer ir embora para o PS? Que autoridade terá ele para os conduzir no futuro? Se é contestado pelos adeptos, terá condições para ganhar alguma coisa no clube sem que lhe "façam a cama" todos os dias?
Passam horas infindáveis de "análises" à situação e um sem-número de "comentadores" vive à conta destes episódios.

A metáfora é esclarecedora e a situação assustadoramente parecida.
A "única" diferença é que no futebol ganham-se e perdem-se jogos, a tristeza dos adeptos em caso de derrota dura só até ao dia seguinte e estas coisas do mercado de transferências até têm graça de se assistir e entretêm um Verão sem campeonato. Por seu lado, a política joga com o futuro dos próprios "adeptos"/"sócios", ganham-se e perdem-se empregos e qualidade de vida de gerações inteiras e é a reputação do "clube" e o bem-estar das suas famílias que sai afectada.

Há gente que teima em não perceber esta diferença, a começar por estes "políticos da bola".

terça-feira, 2 de julho de 2013

Sondagem

Após dois dias de grande agitação política, com a demissão de Vítor Gaspar e Paulo Portas, nós, os contraditores, decidimos contribuir para o debate. Assim, abrimos as hostes com uma sondagem aos nossos leitores (margem direita da página):
Qual pensam ser a melhor solução para o impasse político a que Portugal chegou?
Consideramos ser do interesse nacional deixar aos eleitores a escolha da opção (forma de governar o país) mais viável/apoiada. A sondagem está-lo-á enquanto a situação política lhe dê sentido. 
A resposta está restringida a uma alternativa por voto.

Já que as alternativas podem gerar dúvidas na sua interpretação, fica uma explicação mais extensa daquilo que pretendemos abranger em cada uma:
i) Manter o Governo: Portas e Gaspar saem, entra Albuquerque, e ???. De resto, tudo na mesma. Será viável?
ii) Eleições: o cenário que toda a oposição quer. O resultado esperado é simples: PS no governo (maioria absoluta?), esquerda em alta, PSD/CDS nas "lonas". Até que ponto é viável um novo governo surgido de eleições antecipadas e resolverá ele alguma coisa?
iii) Novo Governo (sem eleições): reedição da transição Durão/Santana. Passos abandona, PSD e CDS trocam lideranças e formam novo governo com "sangue novo". Resolverá alguma coisa? Quem será o novo primeiro-ministro nessas circunstâncias?
iv) Governo de Salvação Nacional (iniciativa Parlamentar): Passos demite-se, PS/BE/PCP abdicam de eleições e do "resultado esperado" (ou mesmo com eleições e o "resultado esperado") para se unirem a PSD/CDS e formarem um governo conjunto para (realmente) resolverem os problemas do país. Serão capazes de colocar as diferenças de parte e o interesse nacional acima dos interesses partidários? Haverá estabilidade num governo desses?
v) Governo de Salvação Nacional (iniciativa Presidencial): Cavaco demite o governo (ou este demite-se sozinho) e (independentemente de realizar eleições ou não) convoca os partidos (esquerda, direita, ...) a formarem um governo conjunto com objectivos semelhantes ao ponto anterior. A principal diferença aqui é a intervenção presidencial e a sua (própria) responsabilização política. Terá Cavaco os "cojones" para o fazer?
vi) Governo Tecnocrata (iniciativa Presidencial): novamente sai o governo, mas neste caso Cavaco Silva dá posse a um governo apartidário, composto por elementos com comprovada competência e reputação, um pouco à semelhança do que foi feito em Itália no governo de Mario Monti. Quem seria nesse caso o escolhido para liderar o governo? Quem apoio social terá um executivo desses? Terá legitimidade política para reformar o país?

Fazemos assim dois apelos aos leitores: que apenas votem uma vez, para que os resultados sejam realistas, e que espalhem a sondagem, para que a amostra seja relevante. Acompanharemos os resultados com atenção e tiraremos as devidas conclusões possivelmente em futuras publicações.

Esperamos pelas respostas e que possamos contribuir para uma maior consciencialização da visão que os portugueses têm do seu país e do que rumo que querem que ele siga.