O que ensina o latim...

"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Primeira via


Nunca como hoje a livre expressão foi tão valorizada. Tem-se verificado, principalmente desde a segunda metade do séc. XX, a generalização da democracia: primeiro na Europa centro-ocidental, mais tarde na Europa de leste e do sul. Acresce, no começo desta década, a aparente vontade de democratizar sociedades, cuja organização sócio-cultural nunca foi propícia para tal. Assim se viram os acontecimentos da “Primavera árabe”, mas que o tempo provará (como já hoje prova) que mudaram pouco mais do que as lideranças dum poder “musculado”.
Sócrates, que não José
No caso português, muito se salienta a “Liberdade” “conquistada por Abril” (as aspas acentuam o facto de serem expressões usadas recorrentemente). Contudo, não se pode dizer propriamente que os níveis de participação cívica sejam elevados. Há uma clara indiferença dos cidadãos em geral para as questões do país, desde que elas não interfiram directamente com o seu bolso e os seus “direitos”. E mesmo quando essa intervenção acontece, pela opinião escrita ou expressa, nos cafés ou nos fóruns da rádio, é feita irreflectidamente, com conhecimento deficiente dos pontos em discussão, papagueando frases feitas e argumentos repetidos.
Acresce ademais o descrédito face à actividade dos agentes políticos, que semearam ao longo de anos promiscuidades e compadrios que afectam decisivamente o interesse da comunidade.
Ainda assim, creio que esta não é a tendência que se verifica entre os estudantes. A militância nas “J”s partidárias, empurrada pela convicção de que essa é hoje fonte determinante para se “ser alguém” em Portugal, e não tanto por convicção ideológica, mobiliza o empenho “cívico” daqueles. Acho, paradoxalmente, que tal é feito do mesmo modo dos que opinam por opinar: sem informação, nem reflexão.

O excesso de posições “alinhadas” que a partidocracia gerou levou-nos a criar este espaço. Espaço onde se pretende valorizar a livre crítica e as ideias próprias, fundamentadas por cada um, abrindo espaço ao contraditório.
Sendo ainda assim um espaço particular, julgamos ser esta a primeira via para que os jovens em primeiro, e a restante sociedade civil depois, tenham um papel mais decisivo no rumo que queremos para Portugal.

Nota: Os textos expostos no Tricontraditorium representam apenas as posições dos autores que os publicam, não comprometendo aos demais.