Os professores do Estado realizaram ontem,
dia de exame nacional de Português, um exercício geral de fuga às suas
responsabilidades. Ou melhor, talvez seja grotesca a generalização, porque nem todos fugiram, uns cumpriram.
Esta foi mais uma demonstração
imensa de falta de ética. Não olhando aos meios. Não só da parte dos sindicatos
(habituados a exceder limites), como também de quem deveria resolver a situação
(os tribunais).
Numa etapa tão decisiva para
milhares de jovens, num país cujo futuro é tão incerto e cujas hipóteses de
construir uma carreira profissional decente estão cada vez mais vedadas aos
jovens (principalmente aos que vêm de famílias desfavorecidas), é inconcebível
que meio-dúzia de ineptos sindicalistas, dizendo-se professores, montem este
circo, cujo propósito único é o de lixar a vida a quem é mais frágil: os
estudantes das escolas públicas. E ainda por cima, levem o patrocínio das instâncias judiciais.
Eles comem tudo e não deixam nada! |
Contudo, poder-se-ia pensar que
ninguém opera uma coisa destas de ânimo leve, que há razões por de trás dela.
Vamos lá então às três principais:
- As novas regras para os funcionários públicos prevêm a passagem do horário de trabalho das 35 para as 40 horas semanais. Qualquer professor que se prese trabalha muito mais do que 40h/semana, entre aulas, corrigir testes, preparar aulas, reunir com pais e alunos. Ora, se são os próprios a dizerem-no, e mantendo as 22h ou 25h lectivas semanais, onde é que isto é assunto?
- O segundo motivo para tanta balbúrdia é a chamada “mobilidade especial” na função pública. Poder-se-ia argumentar que o próprio MEC veio a público anunciar que tudo será feito para não dispensar esses professores. Mesmo dando de barato que isso possa não acontecer, não faz sentido que o Estado, em reestruturação do número de funcionários públicos, discrimine positivamente os professores, não os abrangendo nessa reforma (ao contrário dos administrativos, técnicos superiores, chefias intermédias, militares, etc.)? Acresce o facto de o número de alunos inscritos nas escolas tende a ser cada vez menor, fruto da quebra na natalidade. Como é que se pode manter uma educação pública minimamente (repito minimamente) eficiente, sem que estas coisas sejam levadas em conta?
- O terceiro argumento claramente esmaga os outros em absurdez (dada a já absurdez dos anteriores). A defesa da escola pública, trunfo usado até ao tutano, por quem não sabe o que dizer, por quem não sabe o país onde vive. Um Estado monstruoso, uma economia decrépita, uma sociedade envelhecida, uma empresariado ignorante, uma montanha de jovens (formados) sem futuro. Achar-se o fim da “escola pública” vai longe, bem longe, de emagrecer o sistema, de adequá-lo à realidade social, económica, política, demográfica do país e do Estado que o suporta. O slogan não pretende mais do que reforçar a retórica dos "neo-liberais" feios, porcos e maus, dos "ascistas" que não defendem os valores que Abril conquistou. Sem a mais pequena adesão ao real, numa tentativa desonrosa de defender o grupeto sindical, que faz dessa actividade modo de vida.
Mas afinal, quem é este agitador-mor? Fui à procura de resposta, mas fiquei a saber de pouco. Nem a uma página na Wikipedia o homem tem
direito.
- Aqui diz-se, entre outras banalidades, que queria ser matemático e acabou sindicalista depois de ver uma manif de cem mil em Lisboa.
- Henrique Raposo revela que «a sua "carreira" docente conta com 32 anos de serviço, mas, na verdade, (…) só deu aulas nos primeiros 10 anos de vida profissional». Mais à frente: «Mário Nogueira tem sido avaliado como professor: recebeu o "Bom" correspondente à classificação de 7,9 obtida no agrupamento de escolas da Pedrulha, Coimbra (CM, Dez.-2011)».
- O próprio explicou (aqui) o feito: «Fui avaliado com base num relatório de toda a actividade desempenhada na FENPROF, acções de formação que realizei, conferências e congressos em que participei, artigos que escrevi na comunicação social, tudo». Como diz Camilo Lourenço, «Experiência de ensino? Nicles».
- De resto, filiou-se desde muito cedo no PCP, onde hoje é do Comité Central, e desde há 2 décadas anda a papaguear na praça "em nome dos professores" e da FENPROF. Ou seja, fora a propaganda político-sindical bolchevista, Mário Nogueira não existe.
Neste preparo, Mário Nogueira é O
ministro da Educação. «A cadeira do ministério vai mudando de dono, mas MárioNogueira está lá sempre». Não há nada em que ele não meta o nariz: estatuto dos
professores, dos alunos, dos auxiliares, dos currículos pedagógicos, da organização
das escolas, do financiamento do ensino. Tudo é “negociado” com a FENPROF. Pensava eu que os sindicatos existiam para defender
assuntos laborais de uma classe. Afinal servem também para governar o país.
Para o MCE surgiam dois cenários. Primeiro, esperar que o tribunal arbitral acabasse com a palhaçada,
decretando serviços mínimos, Segundo, caso o tribunal alinhasse com a tropa-fandanga,
manter a data do exame e decretar a requisição civil, ou alterar a data e fazer
a vontade aos sindicatos.
O Tribunal Arbitral, contra a
jurisprudência de 2005 e 2007 de tribunais superiores, achou que não era
indispensável cento e tal alunos realizarem exame nacional de 12º ano à sua língua
materna, para muitos decisivo no acesso ao ensino superior. E, pior, um Tribunal Administrativo achou que “não
era urgente” despachar o recurso do Ministério antes da greve. Quero dizer:
os tribunais arbitrais que são capazes de decretar serviços mínimos (que muitas
vezes são máximos) para greves de camiões de enlatados, não o são para
paralisações que afectam o futuro, para além do presente, de milhares de jovens e famílias?
Que casos é que um Tribunal Administrativo acha “urgente” então? Gosto desta
justiça coerente e despolitizada.
Em resposta a isto, Nuno Crato foi
bastante paciente. Eu não o teria sido. Mas parece que ganhou esta batalha: segundo números do próprio MCE, 80 mil alunos fizeram a prova, apesar do absentismo professoral.
Em conclusão, o tipo dos bigodes
acaba de fazer um bonito serviço a quem diz defender. Não só não vai conseguir
levar avante! o seu propósito (o horário
será expandido, a “mobilidade especial” avançará), como está a cometer a proeza
de atrapalhar a vida a milhares de famílias e ao sistema educativo em geral, tal como está a virar a opinião pública contra a própria classe (que ultimamente tem compreendido os seus problemas, como o burocrático regime de
avaliação e o ter de aturar miúdos mal-criados).
Um verdadeiro bigode passado aos professores.
já agora o lado B ... sem bigodes
ResponderEliminarhttp://aventar.eu/2013/06/19/crato-cumpriu-crato-implodiu/