Tal como eu próprio tinha
vaticinado muito antes de sonhar com a balbúrdia
política das últimas semanas, não houve acordo tripartido nenhum.
O fracasso de tal iniciativa, que
acaba por ser o do próprio Cavaco,
embora reconheça a inédita toma de riscos, deveu-se essencialmente ao contexto
em que o PS se encontra e à própria filosofia dos partidos em Portugal, com
destaque para o socialista: só avançam para acordos quando lhes convém, ou
quando é mesmo impreterível.
O PS vive mergulhado em três
indecisões fundamentais.
A primeira das quais (e aquela
que mais deveria pesar na sua acção política) a assinatura do memorando da troika. O Partido Socialista não pode, seriamente, ser
contra a troika, quando foi o próprio,
então no governo, que promoveu e co-assinou o contrato da assistência externa. Contudo, o
partido, e as próprias figuras do governo anterior, têm ensaiado, nestes dois
últimos anos, forçar a nota junto das entidades externas, o que é, no mínimo, desonesto
e, no máximo, irresponsável. Se é assim, porque não o fizeram logo de início em
2011? A resposta só pode ser: não estavam na oposição.
Em segundo lugar, enquadrado pela
indecisão anterior, o partido vive na dúvida existencial: tentar aproximar-se
da sua esquerda, com a qual tem muito pouco a ver em responsabilidade, história e
ideologia, ou convergir com a direita, o que em Portugal é mal visto.
Recentes acontecimentos ajudaram
a dissipar algumas destas dúvidas. No meio das negociações do "arco do
poder", o BE pediu ao
PCP e PS uma ronda de conversações para um futuro governo de coligação. O resultado foi tão brilhante que as
conversas foram de imediato
terminadas (veja-se que, a título de exemplo, para o Bloco é urgente
a saída da NATO – tema candente e prioritário entre nós, como se sabe!).
Como bem escreveu João Miguel Tavares no Público
da passada quinta-feira (18/7), "ver o Bloco pedir a abertura de uma ronda de negociações
com PS e PCP, com vista à formação de um futuro governo de esquerda, é como ver
um porco, não só a andar de bicicleta, mas a ganhar a Volta a França".
Em paralelo, as conversações com
a direita foram abruptamente acabadas por um motivo espúrio e ainda mal
explicado, quando, ao fim de uma semana de conversas (!), pareciam encaminhadas
para um resultado inédito, por mínimo que fosse.
A terceira indecisão que
atormenta o Partido Socialista é a do seu secretário-geral. António José Seguro
treme a cada vez que é forçado a tomar uma decisão. Como li na Sábado de há duas semanas (11 a 17 de
Julho), o líder socialista é um hesitante por natureza e teme o "confronto
com pessoas muito inteligentes" (cito de cor). À primeira vista não é
difícil de perceber porquê...
Mas, para além desta que lhe
corre no sangue, inSeguro é avassalado pela indecisão "salvar o país vs.
salvar-se a ele mesmo e ao partido". Ora, um líder partidário que escolhe
em permanência a segunda opção, principalmente neste momento histórico e tendo
em conta o que escrevi acima, não pode governar um país com oito séculos de
história. Um líder que não se sente encorajado a decidir por ele mesmo, que
deixa que outros respondam por ele, que teme Costa, Soares, a sua tropa-fandanga e a Maçonaria e que não sabe exactamente o que quer, é um inepto, um incompetente, não serve para
nada.
Eu desejaria um PS responsável,
que estivesse à altura da sua importância histórica, que fizesse oposição a uma
maioria cheia de buracos, que soubesse exactamente para onde quer ir e que
fosse liderado por um tipo competente, inteligente, culto e determinado.
Bem que tenho procurado nas empresas seguradoras, mas infelizmente não me oferecem nada disso!
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