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"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Os seguros da minha intranquilidade

Tal como eu próprio tinha vaticinado muito antes de sonhar com a balbúrdia política das últimas semanas, não houve acordo tripartido nenhum.
O fracasso de tal iniciativa, que acaba por ser o do próprio Cavaco, embora reconheça a inédita toma de riscos, deveu-se essencialmente ao contexto em que o PS se encontra e à própria filosofia dos partidos em Portugal, com destaque para o socialista: só avançam para acordos quando lhes convém, ou quando é mesmo impreterível.


O PS vive mergulhado em três indecisões fundamentais.
A primeira das quais (e aquela que mais deveria pesar na sua acção política) a assinatura do memorando da troika. O Partido Socialista não pode, seriamente, ser contra a troika, quando foi o próprio, então no governo, que promoveu e co-assinou o contrato da assistência externa. Contudo, o partido, e as próprias figuras do governo anterior, têm ensaiado, nestes dois últimos anos, forçar a nota junto das entidades externas, o que é, no mínimo, desonesto e, no máximo, irresponsável. Se é assim, porque não o fizeram logo de início em 2011? A resposta só pode ser: não estavam na oposição.
Em segundo lugar, enquadrado pela indecisão anterior, o partido vive na dúvida existencial: tentar aproximar-se da sua esquerda, com a qual tem muito pouco a ver em responsabilidade, história e ideologia, ou convergir com a direita, o que em Portugal é mal visto.
Recentes acontecimentos ajudaram a dissipar algumas destas dúvidas. No meio das negociações do "arco do poder", o BE pediu ao PCP e PS uma ronda de conversações para um futuro governo de coligação. O resultado foi tão brilhante que as conversas foram de imediato terminadas (veja-se que, a título de exemplo, para o Bloco é urgente a saída da NATO – tema candente e prioritário entre nós, como se sabe!). Como bem escreveu João Miguel Tavares no Público da passada quinta-feira (18/7), "ver o Bloco pedir a abertura de uma ronda de negociações com PS e PCP, com vista à formação de um futuro governo de esquerda, é como ver um porco, não só a andar de bicicleta, mas a ganhar a Volta a França".
Em paralelo, as conversações com a direita foram abruptamente acabadas por um motivo espúrio e ainda mal explicado, quando, ao fim de uma semana de conversas (!), pareciam encaminhadas para um resultado inédito, por mínimo que fosse.
A terceira indecisão que atormenta o Partido Socialista é a do seu secretário-geral. António José Seguro treme a cada vez que é forçado a tomar uma decisão. Como li na Sábado de há duas semanas (11 a 17 de Julho), o líder socialista é um hesitante por natureza e teme o "confronto com pessoas muito inteligentes" (cito de cor). À primeira vista não é difícil de perceber porquê...
Mas, para além desta que lhe corre no sangue, inSeguro é avassalado pela indecisão "salvar o país vs. salvar-se a ele mesmo e ao partido". Ora, um líder partidário que escolhe em permanência a segunda opção, principalmente neste momento histórico e tendo em conta o que escrevi acima, não pode governar um país com oito séculos de história. Um líder que não se sente encorajado a decidir por ele mesmo, que deixa que outros respondam por ele, que teme Costa, Soares, a sua tropa-fandanga e a Maçonaria e que não sabe exactamente o que quer, é um inepto, um incompetente, não serve para nada.


Eu desejaria um PS responsável, que estivesse à altura da sua importância histórica, que fizesse oposição a uma maioria cheia de buracos, que soubesse exactamente para onde quer ir e que fosse liderado por um tipo competente, inteligente, culto e determinado.
Bem que tenho procurado nas empresas seguradoras, mas infelizmente não me oferecem nada disso!


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