O que ensina o latim...

"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Capitalismo clientelista e a Goldman Sachs

O capitalismo clientelista é umas das muitas possíveis traduções de crony capitalism, entre capitalismo de compadrio, capitalismo de camaradagem ou capitalismo de conivência. Prefiro a alternativa capitalismo clientelista, porque o termo clientelismo tem o seu lugar no debate público e por associá-lo a rent-seeking.

Por capitalismo clientelista entenda-se que estamos a falar de uma forma degenerada de capitalismo, em que indivíduos ou empresas usam a sua rede de contactos ou influência junto de outros - tipicamente o Estado, mas não só - de modo a obter ganhos injustificados na forma de subsídios, contractos, isenções ficais, regulação mais favorável, etc.

Mas hoje pretendo falar sobre este tipo de capitalismo degenerado na sua vertente de rent-seeking e com um caso em concreto. E rent-seeking não é nada mais que procurar manipular o sistema para obter rendas excessivas. Na verdade, clientelismo é uma particularização de rent-seeking.

E através do The Daily Show, apresento-vos um dos exemplos mais marcantes da actualidade deste capitalismo degenerado.

Vídeo 1:
Vídeo 2:

Para o senhor do vídeo 2 que não percebeu o esquema, permita-me:

A Goldman Sachs (GS) faz duas coisas: transacciona no marcado de futuros em alumínio e gere os armazéns de alumínio. Acontece que a GS está a comprar directamente ao produtor e a acumular inventários, pelo que a oferta de alumínio no mercado diminui, o que, dada a inelasticidade da procura, leva ao aumento do preço do alumínio.

Alguém pode fazer a seguinte observação: Ah, mas o espaço de armazenamento é limitado, pelo que, tarde ou cedo, vão ter que começar a despejar esse inventário excessivo no mercado e portanto o preço vai descer. Verdade, mas vai ser a GS a ditar o quando, e no mundo dos negócios o tempo é tudo. Basta usar futuros para amealhar um bom pé-de-meia.

Mas não temos apenas um banco a manipular os preços para poder forrar os bolsos, mas também i) a manipulação está a afectar os cidadãos directamente e não apenas os restantes jogadores da bolsa, já que a manipulação vem através das quantidades, pelo que produtos que incorporam alumínio estão a subir de preço também; ii) apesar de obedecer à letra da lei  que não permite hoarding, está claramente a violar o seu espírito; iii) ainda por cima tem que gastar recursos em actividades absolutamente nada produtividades para contornar a lei.

Este enriquecimento através da manipulação dos mercados conjugados com actividades que acrescentam zero ao bem-estar social, além de contribuir para o aumento da desigualdade, é absolutamente desprezível e criminoso. Na prática, é a isto que o capitalismo clientelista se resume.

Podem ler mais sobre o assunto aqui:
  1. Goldman's new money machine: warehouses
  2. Goldman Sachs’s Aluminum Pile
  3. A Shuffle of Aluminum, but to Banks, Pure Gold

Sem comentários:

Enviar um comentário