O que ensina o latim...

"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Cuidado na descida (do desemprego)

Parafraseando Charles Dickens:

Era o melhor dos sinais, era o pior dos sinais.

Há quem veja muita esperança numa descida na taxa de desemprego. Eu vejo problemas.

É normal que um cidadão comum veja uma descida da taxa de desemprego como algo para festejar, porque associa essa descida ao facto de alguém ter encontrado emprego. Por virtude da minha formação, consigo ler melhor o que se passa por detrás da taxa de desemprego. E sei que há outras razões para a taxa de desemprego descer, e essas não envolvem encontrar emprego.

A taxa de desemprego pode estar a descer tão pura e simplesmente porque há desempregados, tal é a ansiedade e a frustração, que desistiram de procurar emprego. Isto é um mau sinal.

Também pode descer porque desistiram de procurar emprego em Portugal, fizeram as malas e emigraram. Isto é um mau sinal.

No final, perdemos mão-de-obra. E por sinal qualificada. E por sinal, Portugal está a adaptar-se a um novo normal que deixa muito a desejar.

Agora, como sabemos porque razão o desemprego desceu? Para esta crise, um bom indicador seria olhar apenas o rácio entre empregados e população. Outro, mais trabalhoso, seria olhar para os principais fluxos que afectam o desemprego: o saldo migratório, os novos reformados, os novos empregados e aqueles que acabaram de entrar no mercado de trabalho.

Infelizmente, o INE é um instituto de estatística que a meu ver deixa muito a desejar e recolher estes dados não é fácil. E quando os encontro, não estão actualizados. Se quisesse construir  o rácio emprego população, só o podia fazer até o 1º trimestre de 2009. Ridículo. Há quem já tente construir séries mensais para o PIB e nós ainda vamos em 2009... No entanto, vou procurar mais dados e escrever outro artigo na altura apropriada.

Mas fica o aviso: associar uma descida da taxa de desemprego a uma recuperação económica pode ser um engano. E muito provavelmente o é.

2 comentários:

  1. Caro J Ruivo tenho visto este blog imensas vezes e tenho de dizer que gosto imenso!

    Pessoalmente acho que a emigração é mesmo a causa principal. Embora a primeira que apontastes seja, também ela relevante, eu acho que haver pessoas que aceitem empregos "maus"(baixo VAB e baixo salário) sempre é melhor que não haver nada aceite...


    Gostaria que, se possível comentasses, a decisão do TC sobre a mobilidade especial. Quais as vantagens, desvantagens, etc...

    Eu tenho minha opinião pessoal, mas convinha ter uma segunda ideia não? :)

    P:S:. Alguns dados que podem ajudar te é o Eurostat e em alguns casos dados de países que "tradicionalmente" recebem imigrantes portugueses. Sempre é um complemento na pesquisa pois alguns países têm subcategorias das principais comunidades presentes no país(Luxemburgo por exemplo.)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigados pelas suas palavras. São encorajadoras.

      Desde que publiquei este artigo, tenho andado a vasculhar a base de dados do INE até agora. Acredito que finalmente encontrei os dados necessários para melhor compreender o que se passa.

      Nessa da agricultura... Tenho que aprender a medir bem as palavras. Devia ter dito muito explicitamente que esse "sector é para reformar e não para apostar". Mas sim, neste momento é melhor ter um emprego, qualquer emprego, do que nenhum emprego.
      Vou voltar ao assunto depois dos meus colegas me deram a devida tareia.

      Normalmente, deixo os assuntos com uma forte carga política e mais nacionais nas mãos dos meus colegas. Mas eles têm andado ocupados, por isso sou capaz de pegar no assunto.

      Muito obrigado pela informação sobre a migração. Vou dar uma vista de olhos pelo Eurostat.

      Eliminar