Nas últimas semanas, a crítica e a
retórica têm-se ocupado do "consenso", sem se perceber ao certo a
razão/necessidade para tal entendimento, diria, os benefícios que isso possa
trazer, e que diferença isso significaria em relação ao que temos hoje.
Para mim as coisas estão bastante claras.
- Em 2011, o Presidente da República (recém-reeleito) decidiu mostrar que ainda servia para alguma coisa e mandou as gentes de Sócrates (incluindo o próprio) irem dar uma curva.
- Antes de dar à sola, num dos raros serviços bem-feitos à Nação, o Teixeira impôs ao “engenheiro de crises” o pedido de assistência externa, antes da habitual campanha do passa-culpas.
- O governo Passos-Portas foi então eleito com maioria parlamentar, suportada por 2 partidos: um cacique e um bailarino.
- O PS levou uma tareia eleitoral, de tal ordem que relegou uma parte do seu comando para o estrangeiro, e a outra parte para o 5º anel do parlamento.
- A militância socialista, no abandono do chefe-mor, escolheu um "pastel" para a "liderar": um senhor que queria "trazer os afectos para a política", sem passado, que seria ninguém fora da política (como tantos outros), abaixo de zero intelectual, cultural, linguisticamente.
- Já mais ultimamente, o Zé francês saiu da sombra e da sua desvergonha, e anda agora a palpitar por tudo o que é canto.
- O Costa, que também sabe-a toda, anda-se a passear. Ainda ameaçou qualquer coisinha para consumo interno, mas depois deixou-se estar quieto: deixar o Seguro construir a casa onde ele irá morar daqui a um par de anos tem muito mais piada. E a Câmara de Lisboa até nem é má de todo.
- Com isto o “zero à esquerda” assustou-se e começou a dar corda aos sapatos, censurando tudo o que lhe apareceu à frente, e renasceu cheio de programas, nomes e alternativas (diz ele).
- Enquanto isso, o Vítor das folhas de cálculo (dizem que percebe imenso daquilo...) conseguiu a extensão das maturidades no pagamento da generosidade estrangeira, premiando a sua mais que intangível imaginação para subir impostos.
- Já o Álvaro dos "natas", na sua última chance para fazer alguma coisa antes de ser mandado borda fora (pelo CDS, desejoso de lhe roubar a pasta), saiu dos escombros. Anda por aí com a "estratégia para o crescimento", "reindustrializar Portugal", cheio de coisas requentadas do acordo tripartido do último ano.
- No meio de tanto entretenimento, há um entendimento que parece nem existir para muitos. Acordo tal, que vale uma generosa conta em dezenas de milhar de milhão de Euros, e (muita) perda de soberania, assinado em primeiro pelo partido mais-que-entretido, e promovido pela falência nacional na acumulação de crimes orçamentais, “visões ideológicas”, a mais proeminente delas a do betão e do aço, da propaganda médica socratista.
- Já o Tribunal Constitucional, hermeticamente fechado às circunstâncias de excepção em que nos enfiámos, e amante desta sugação fiscal, riscou a eito 1,3 mil milhões de Euros do plano orçamental das Finanças. O Gaspar, num ataque de histeria e represália, paralisou todas as despesas dos ministérios. Parece que já se acalmou, atirou para a frente cortes mais duradouros.
- O nosso PR, como bom velho do Restelo, entalado entre o TC e o governo, veio desancar no Seguro, no seu longo bocejo na festarola dos cravos, forçando o tal “consenso”. Quer evitar, a todo o custo, que o menino lhe caiano colo.
Então, no meio de tanto foguetório, querem
consenso para quê? Em quê?
- Revisão
constitucional, ninguém a põe: os preceitos são sagrados, embora todos os
violem e achem (quando lhes convém) que estão desadequados aos tempos de hoje.
- A educação está bem
e recomenda-se: nunca foi grande preocupação para os entretidos, muito
menos para as festividades socialistas que sempre acharam que o assunto
era a "Alice no país das maravilhas" (ou, a haver problema, ele
resolve-se com electrónica
“barata”…).
- Na saúde ninguém
mexe: o "pai" do SNS não
deixa. Os médicos podem continuar a receber em horas extraordinárias pelo
que é seu dever no horário normal; médicos e enfermeiros podem continuar a
trabalhar meio dia, recebendo como se exercessem o dia inteiro, acumulando
assim com consultórios privados, etc. – não há problema!
- A justiça dá jeito
que não funcione: assim, honestos cidadãos como o Sócrates,
o Relvas deslicenciado, o Vara,
o Dias
Loureiro, o Valentim autárquico também Loureiro, o Salgado banqueiro, o Godinho
sucateiro que é um
amigalhaço porque até oferece robalos, o Pedroso da casa de Elvas, ou o Rodrigues
dos gravadores (e também das casas
açorianas) podem estar descansados.
- A reforma do Estado, a custo, lá terá de ser agora, mas ninguém lhe apetece ficar associado a
mandar para o galheiro uns bons milhares de servidores públicos. Mas as
assessorias e as chefias empresariais públicas continuam à caça de
talentos ex-autárquicos e governamentais – há que renovar os quadros!
- E o sistema
eleitoral está vigoroso, na promoção da meritocracia e participação
cívica.
O que se depreende daqui? O sistema sem
uma valente volta é consensualmente inútil.
PS: Nota para a crónica de Vasco Pulido
Valente no Público, hoje
mesmo (4 de Maio), sobre assunto relacionado.