O que ensina o latim...

"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

sábado, 4 de maio de 2013

Consensualmente inútil



Nas últimas semanas, a crítica e a retórica têm-se ocupado do "consenso", sem se perceber ao certo a razão/necessidade para tal entendimento, diria, os benefícios que isso possa trazer, e que diferença isso significaria em relação ao que temos hoje.
 
Portugal do avesso

Para mim as coisas estão bastante claras.
  1. Em 2011, o Presidente da República (recém-reeleito) decidiu mostrar que ainda servia para alguma coisa e mandou as gentes de Sócrates (incluindo o próprio) irem dar uma curva.
  2. Antes de dar à sola, num dos raros serviços bem-feitos à Nação, o Teixeira impôs ao “engenheiro de crises” o pedido de assistência externa, antes da habitual campanha do passa-culpas.
  3. O governo Passos-Portas foi então eleito com maioria parlamentar, suportada por 2 partidos: um cacique e um bailarino.
  4. O PS levou uma tareia eleitoral, de tal ordem que relegou uma parte do seu comando para o estrangeiro, e a outra parte para o 5º anel do parlamento.
  5. A militância socialista, no abandono do chefe-mor, escolheu um "pastel" para a "liderar": um senhor que queria "trazer os afectos para a política", sem passado, que seria ninguém fora da política (como tantos outros), abaixo de zero intelectual, cultural, linguisticamente.
  6. Já mais ultimamente, o Zé francês saiu da sombra e da sua desvergonha, e anda agora a palpitar por tudo o que é canto. 
  7. O Costa, que também sabe-a toda, anda-se a passear. Ainda ameaçou qualquer coisinha para consumo interno, mas depois deixou-se estar quieto: deixar o Seguro construir a casa onde ele irá morar daqui a um par de anos tem muito mais piada. E a Câmara de Lisboa até nem é má de todo.
  8. Com isto o “zero à esquerda” assustou-se e começou a dar corda aos sapatos, censurando tudo o que lhe apareceu à frente, e renasceu cheio de programas, nomes e alternativas (diz ele).
  9. Enquanto isso, o Vítor das folhas de cálculo (dizem que percebe imenso daquilo...) conseguiu a extensão das maturidades no pagamento da generosidade estrangeira, premiando a sua mais que intangível imaginação para subir impostos.
  10. Já o Álvaro dos "natas", na sua última chance para fazer alguma coisa antes de ser mandado borda fora (pelo CDS, desejoso de lhe roubar a pasta), saiu dos escombros. Anda por aí com a "estratégia para o crescimento", "reindustrializar Portugal", cheio de coisas requentadas do acordo tripartido do último ano.
  11. No meio de tanto entretenimento, há um entendimento que parece nem existir para muitos. Acordo tal, que vale uma generosa conta em dezenas de milhar de milhão de Euros, e (muita) perda de soberania, assinado em primeiro pelo partido mais-que-entretido, e promovido pela falência nacional na acumulação de crimes orçamentais, “visões ideológicas”, a mais proeminente delas a do betão e do aço, da propaganda médica socratista.
  12. Já o Tribunal Constitucional, hermeticamente fechado às circunstâncias de excepção em que nos enfiámos, e amante desta sugação fiscal, riscou a eito 1,3 mil milhões de Euros do plano orçamental das Finanças. O Gaspar, num ataque de histeria e represália, paralisou todas as despesas dos ministérios. Parece que já se acalmou, atirou para a frente cortes mais duradouros.
  13. O nosso PR, como bom velho do Restelo, entalado entre o TC e o governo, veio desancar no Seguro, no seu longo bocejo na festarola dos cravos, forçando o tal “consenso”. Quer evitar, a todo o custo, que o menino lhe caiano colo. 


Então, no meio de tanto foguetório, querem consenso para quê? Em quê?
  • Revisão constitucional, ninguém a põe: os preceitos são sagrados, embora todos os violem e achem (quando lhes convém) que estão desadequados aos tempos de hoje.
  • A educação está bem e recomenda-se: nunca foi grande preocupação para os entretidos, muito menos para as festividades socialistas que sempre acharam que o assunto era a "Alice no país das maravilhas" (ou, a haver problema, ele resolve-se com electrónica “barata”…).
  • Na saúde ninguém mexe: o "pai" do SNS não deixa. Os médicos podem continuar a receber em horas extraordinárias pelo que é seu dever no horário normal; médicos e enfermeiros podem continuar a trabalhar meio dia, recebendo como se exercessem o dia inteiro, acumulando assim com consultórios privados, etc. – não há problema!
  • A justiça dá jeito que não funcione: assim, honestos cidadãos como o Sócrates, o Relvas deslicenciado, o Vara, o Dias Loureiro, o Valentim autárquico também Loureiro, o Salgado banqueiro, o Godinho sucateiro que é um amigalhaço porque até oferece robalos, o Pedroso da casa de Elvas, ou o Rodrigues dos gravadores (e também das casas açorianas) podem estar descansados.
  • A reforma do Estado, a custo, lá terá de ser agora, mas ninguém lhe apetece ficar associado a mandar para o galheiro uns bons milhares de servidores públicos. Mas as assessorias e as chefias empresariais públicas continuam à caça de talentos ex-autárquicos e governamentais – há que renovar os quadros!
  • E o sistema eleitoral está vigoroso, na promoção da meritocracia e participação cívica.

O que se depreende daqui? O sistema sem uma valente volta é consensualmente inútil.

PS: Nota para a crónica de Vasco Pulido Valente no Público, hoje mesmo (4 de Maio), sobre assunto relacionado.