O que ensina o latim...

"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

terça-feira, 21 de maio de 2013

Ensinamentos: Prop Trading

Voltando aos ensinamentos (ficam aqui os anteriores: Inside Trading e Especuladores), desta vez com um conceito de negócio quase "de filme": o Proprietary Trading, ou Prop Trading como é vulgarmente designado (tentei procurar por uma tradução para Português, mas em vão).

Mas afinal o que é isto do Prop Trading? É, simplesmente, quando um intermediário financeiro decide tomar uma atitude de especulador, isto é, quando um Banco ou uma Corretora decidem investir nos mercados financeiros por conta própria. Além destes, existem ainda empresas especializadas nesta actividade (por exemplo a OSTC), onde não existe contacto com qualquer tipo de clientes (não recebendo comissões em % dos ganhos ou por transacção). Neste tipo de empresas, os capitais investidos são exclusivamente da empresa, que assume a totalidade do risco, gerindo-o como melhor entender.

Antes de explorar os riscos e vantagens deste negócio, deixar apenas uma curiosidade: o mais famoso exemplo de Prop Trading é o de Gordon Gekko no filme Wall Street, de Oliver Stone.

Quanto às vantagens deste negócio, a mais óbvia é o potencial de lucros. Como é do senso comum, um trader experiente e atento facilmente consegue grandes lucros, seja em posições intra-day (posições abertas e fechadas durante a mesma sessão bolsista), seja em posições mais longas. Isto é uma vantagem para qualquer hedger, visto ter à sua disposição um maior número de investidores disponíveis para contrapor a sua posição no mercado, garantindo a liquidez dos títulos.

Mas, "with great power, comes great responsability" (mantendo a tónica da Sétima Arte). Ou seja, os riscos inerentes a este género de prática são, no mínimo, enormes! Isto essencialmente por três motivos: (1) o capital investido não é responsabilidade dos traders, a quem muitas vezes são dadas carteiras de valor superior a 20.000 euros (para novos traders), podendo chegar a muitos milhões (em grandes bancos, p.e. Goldman Sachs, JP Morgan - onde esta prática determina uma grande fatia de resultados); (2) esta prática (além de financiamento e de salários) não traz nada de novo/relevante à economia real, pelo que os resultados apenas consistem em comprar barato para vender caro (seja por esta ordem - posições longas - ou pela inversa - posições curtas); (3) se ao Prop Trading juntarmos (como acontece na banca de investimento) serviços de aconselhamento a investidores, incorremos em casos em que a empresa pode tentar influenciar o preço do activo financeiro transaccionado por aconselhar a compra/venda de activos onde detém posições longas/curtas.

Proprietary trading nas palavras de Heather Stewart:

"Not only might the prop desk be betting on the direction of share prices, acting like an in-house hedge fund, it might also be gambling on property, complex derivatives, commodities, or any traded asset."


Desta vez, deixo um final algo diferente. Creio que o exemplo do "Kurt, o negociante de diamantes" é bastante elucidativo do que são as práticas neste ramo e de como se pode tratar de um complemento para a Banca de Investimento.