O que ensina o latim...

"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

domingo, 3 de março de 2013

Ensinamentos: Especuladores, Deuses ou Diabos?

Enquanto cidadão gosto de ver outros cidadãos bem informados, enquanto economista gosto de esclarecer conceitos mal usados. Combinando as duas, temos um "ensinador" e algumas lições básicas de economia e finanças, às quais chamarei "Ensinamentos". Este primeiro "Ensinamento", como o título indica, recairá sobre o conceito de especulação, o que são e o que fazem os especuladores, bem como os seus prós e contras. Como nenhum ser é perfeito, algumas opiniões transparecerão, mas o objectivo é esclarecer mais do que opinar.

Antes de definir especulação, dizer que os mercados financeiros (em termos teóricos) são "invadidos" por 3 tipos de investidores: Especuladores, Hedgers e Arbitragistas.
  • Arbitragistas (Arbitrageurs em inglês) são aqueles que encontram discrepâncias no preço de um activo financeiro e conseguem lucrar disso sem incorrer em qualquer risco. As oportunidades de arbitragem são ínfimas e nem todos os investidores conseguem encontrá-las.
  • Hedgers (o termo português mais próximo seria "Cobertores") são investidores que pretendem cobrir o risco em activos necessários à sua actividade económica quotidiana. Por exemplo, um importador português que vende futuros de Dólares para minimizar o risco de uma desvalorização do Euro aquando do recebimento de clientes nos EUA.
  • Especuladores são todos os outros investidores que tentam ganhar dinheiro com activos financeiros, baseando-se nas suas expectativas acerca da evolução do preço dos activos financeiros. 
Agora, os especuladores são bons para a sociedade geral ou, pelo contrário, deviam ser abolidos?
Por serem em maior número que os anteriores, permitem que os Hedgers consigam encontrar no "mercado" quem tenha interesse em transaccionar com eles, permitindo a existência do "mercado". Ao investirem o seu dinheiro, estão a financiar as empresas (no caso de se tratarem de títulos de dívida ou participações em empresas) ou a gerar resultados para si mesmos e para o sector financeiro (que, quer se goste ou não, tem um papel central nas economias desenvolvidas).
No sentido oposto, podem lançar "ataques especulativos" sobre algumas empresas (caso tenham dimensão/capital para isso) o que pode originar bolhas ou mesmo falências (caso Lehman Brothers, entre outros), prejudicando a capacidade produtiva das economias. Ainda assim, um dos mais famosos "ataques especulativos" foi direccionado ao Banco de Inglaterra por George Soros, que lucrou com a sua previsão da relutância do governo britânico em alterar as taxas de juro praticadas. Este exemplo tornou-se um ponto de viragem com o reforço de proibições a "vendas a descoberto" (feitas sem posse dos títulos) e com a limitação das flutuações cambiais diárias.

Em jeito de conclusão, a especulação não é mais do que "aplicar dinheiro na economia" e embora por vezes seja distorcida, a esmagadora maioria dos especuladores são indivíduos que pretendem aplicar as suas poupanças com um pouco mais de retorno (comparativamente aos tradicionais depósitos a prazo). A especulação não é um processo demoníaco em que alguém com interesses duvidosos tenta eliminar empresas ou estados "do mapa" para seu belo prazer, mas um "jogo" de expectativas à semelhança do que se faz em casinos ou casas de apostas, embora um pouco mais racional.

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