Cheguei uns minutos atrasado à sala, porque a melhor maneira de apreciar uma palestra é de barriga cheia. Diga-se que aquela baguete de atum caiu mesmo bem. Quando entrei, reparei que todos os presentes foram ou são alunos do Pedro Leão, à excepção de um amigo meu - que será aluno -, e os restantes eram professores.
Ao sentar-me no meu lugar, finalmente tive oportunidade de ver o que estava projectado no quadro:
Se a UM entre os 52 Estados dos EUA funciona sem problemas há cerca de 200 anos, porque é que passados apenas 10 anos a UM entre 17 Estados da UE criou problemas que parecem não ter solução?A pergunta era provocativa. Era como se fosse um soco no estômago do BCE e da Comissão Europeia.
Para respondê-la, o Professor começou com um exemplo de um choque assimétrico. Um choque assimétrico, neste caso, refere-se a uma diminuição (ou aumento) inesperado da procura ou oferta que afecta com diferentes magnitudes os membros de uma união.
O exemplo dado tinha como gatilho o fim da URSS em 1991. Com o fim da Guerra Fria, a corrida às armas acabou, o que causou uma queda na despesa com defesa nos Estados Unidos. Acontece que a indústria militar está concentrada apenas num par de estados norte-americanos, sendo um deles a Califórnia, e portanto temos aqui um exemplo de um choque assimétrico: a procura é reduzida drasticamente num estado em particular, enquanto o resto da União segue business as usual.
Despesa militar dos EUA (%PIB): fonte |
Comparativamente com a Europa, a emigração desempenha um papel muito menor. Como prova disso, considere-se a seguinte estatística: 33% de todos os norte-americanos reside num estado diferente daquele em que nasceu, em contraste com os 1,5% dos europeus.
Percentagem da população residente oriunda de fora do estado (2010): fonte |
Portanto, a emigração não é capaz de normalizar o desemprego pela Europa.
Quais são as alternativas para o problema europeu? Isso fica para a segunda parte, que isto já vai longo.
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