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"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

sexta-feira, 22 de março de 2013

Água e cidadania

Ontem reparei que apesar de chover copiosamente durante horas, o sistema de rega de um terreno foi accionado na mesma. Ora, isto é apenas um exemplo pitoresco do contínuo desperdício de um recurso extremamente valioso que acontece constantemente a nível nacional. Diga-se de passagem que os aspersores pareciam estar em modo turbo.

Aparentemente, sou o único que repara nisto. Ou pelo menos sou o único que repara nisto agora. Se tivéssemos em seca já surgiam quinhentas vozes a descascar no abuso. Dito de outro modo, estamos perante uma situação típica de "esperar, ver, sofrer, lamentar".

E este desperdício tem o seu quê de paradoxal, quando estamos no século XXI. Até parece que o fulgor ambientalista das décadas de 80 e 90 nem surtiu nas gerações mais jovens, como até parece que hoje não vivemos rodeados de tecnologia capaz de resolver este problema de forma simples e eficaz.

Como cidadão, tenho dificuldade em tolerar este tipo de situações, e portanto fiz aquilo que como cidadão estava ao meu alcance: enviei um e-mail à Câmara informando-a do problema e de possíveis soluções.

A quem de direito,

Ontem à noite reparei que os jardins em frente ao Hospital de S. Bernardo (https://maps.google.pt/maps?q=Set%C3%BAbal&hl=pt-PT&ie=UTF8&ll=38.528824,-8.882014&spn=0.001278,0.002411&sll=38.528828,-8.881993&sspn=0.001278,0.002411&oq=Set&t=h&hnear=Set%C3%BAbal&z=19) eram regados por um sistema de rega automática accionados à uma da manhã.

Acontece que a essa hora já estava a chover bastante há algum tempo - umas quatro horas. Portanto, regar a essas horas e nesse dia era dispensável; pior, a rega era um desperdício de água.

Penso que os terrenos em causa são da responsabilidade da Câmara Municipal, pelo que chamo-vos a atenção para esta situação e proponho as seguintes soluções.

Não sei os pormenores do sistema, mas duvido que seja um relógio mecânico a coordenar a rega, mas sim um programa de software. Logo, com o actual sistema, a solução mais simples e barata, seria a verificação da queda de precipitação nas últimas horas antes de accionar os aspersores. Se a precipitação for superior a X nas últimas Y horas, então não se ligam os aspersores nesse dia. Creio que a informação sobre precipitação é recolhida e divulgada ao público pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

A solução anterior tem os seus problemas, pelo que um programa mais complexo que incluía uma previsão de precipitação para os próximos dias, uma estimativa da quantidade de água presente no solo dadas as variáveis relevantes.

Uma outra alternativa passaria pela substituição do sistema de rega, por um mais inteligente, capaz de analisar a quantidade de água disponível no solo. Mas esta solução só devia ser empregue quando for necessário substituir o sistema, como suspeito que que não seja muito melhor que a solução anterior.

Se ainda não houver uma boa resposta a este problema no mercado português, então esta é uma boa oportunidade para estimular o empreendedorismo dos estudantes e dos professores do IPS. Para resolver este desperdício de água, a Câmara pode propor um desafio/concurso à comunidade do Instituto Politécnico de Setúbal. Tantos os professores como os estudantes hão-de saber escrever o programa necessário, como também deverão saber construir o modelo matemático que optimiza a alocação da água.

Uma boa gestão dos nossos recursos hídricos é fundamental. Tanto será mais importante quando o desperdício acontecer em tempos de seca e não de inundação.
E pelo que vejo agora no Público, a ERSAR anda a estudar a gestão dos recursos hídricos em Portugal. É bom que tenhamos um interesse colectivo naquilo que nos tem para dizer. Portugal tem um sério problema na gestão dos seus recursos hídricos, e receio que só dará a devida atenção a este problema quando uma forte e prolongada seca nos atormentar.