O que ensina o latim...

"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

sábado, 16 de março de 2013

Ensinamentos: "Inside Trading" (e o caso da Goldman Sachs)

Ainda relacionado com o último "Ensinamento", onde abordei o conceito de especulação e a sua contextualização nos mercados financeiros, surge um outro conceito que vulgarmente é designado por "especulação" (negativamente conotado): o inside trading ("transacções internas" é o mais próximo que encontro em Português).
E o que é o inside trading, pergunta o leitor? Inside trading são (definição do Instituto Superior Politécnico de Viseu) "Transacções efectuadas com base em informação privilegiada por indivíduos detentores desse tipo de informação". Exemplificando, poderá ser a compra de acções de uma qualquer empresa feita por alguém com acesso privilegiado à empresa à qual pertencem as acções (membro da administração, funcionário, amigo de um dos anteriores, etc...). Salientar que esta prática é ILEGAL na maioria dos países, visto poder prejudicar os demais investidores, incapazes de aceder à informação na qual se baseou a transacção.

Onde entra a Goldman Sachs no meio disto tudo? Bem, estava eu a vasculhar o meu mural no facebook quando me deparo com a seguinte notícia: "Goldman Sachs investiu 1.118 milhões em dívida espanhola antes de recomendar aos clientes". Pois bem, o que estes senhores fizeram não foi inside trading, já que, sendo um banco de investimento, gerem fundos de investimento próprios, bem como fornecem informações/aconselhamento aos seus clientes (isto não considerando lobbies existentes dentro das empresas em que investem - o que já será inside trading, mas oficialmente não acontece). Assim, os senhores da Goldman Sachs compraram 1.118 milhões de dólares (algo como 860 milhões de euros) de dívida espanhola e aconselharam-na aos seus clientes. Este aconselhamento levará a que mais investidores adquiram dívida espanhola, o que levará (de acordo com as leis da oferta e procura) a um aumento do seu preço, valorizando a posição da Goldman Sachs, sem que novos eventos ocorram no mercado (por eventos leia-se medidas tomadas pelo governo espanhol ou novos dados socio-económicos publicados).

Assim, verifica-se que apesar de o inside trading ser ilegal, existem outras formas de influenciar resultados nos mercados financeiros que são perfeitamente legais. Isto leva a que se pondere o nível de ética da Goldman Sachs, já que tem sido diversas vezes acusada de colocar os seus interesses (seus = das suas transacções) acima dos interesses dos seus clientes (leia-se das suas transacções).

Nesta linha, não se admire o leitor que as agências de rating subam a "nota" portuguesa relativamente depressa (ler http://www.tvi24.iol.pt/economia---negocios/gestoras-de-fundos-fundos-rating-agencias-de-rating-pimco-divida-publica/1426146-6379.html).