Em 1947, quando George Marshall decidiu
lançar o programa, a Europa estava, stricto
sensu, arruinada.
- A recuperação europeia passava necessariamente pela reconstrução de infraestruturas de comunicação, fábricas, e o restabelecimento da produção agrícola e industrial. Nesse momento, a economia privada não existia, o que tornava natural e óbvia a intervenção de dinheiros públicos ou externos que a re-erguessem.
- O século passado foi, largo espectro, marcado pela ideologia e a "guerra fria". Para os EUA, era imperativo evitar que as nações europeias fragilizadas ficassem à mercê da influência soviética. Importava acabar com as manifestações existentes contra os governos locais, que desbravavam caminho para o comunismo a ocidente. Só se faria isso com crescimento económico e emprego para todos.
- Noutra perspectiva, o investimento "estadunidense" nas nossas quintas serviu para criar na Europa uma "bolsa de consumidores" que hoje lhes dá jeito. O encalço dos actuais globalização e mercados capitalistas.
Hoje, as circunstâncias económico-políticas são substancialmente diferentes:
- Nos EUA perpassa uma crise orçamental e um défice externo acentuado (double deficits - ver abaixo).
- O modelo económico global tornou-se, desde há muito, o capitalismo e consumismo. Em toda a parte se nota a forte presença e influência de multinacionais (McDonald's ou Coca-Cola são eg), a maioria delas americanas.
- A própria China é hoje o expoente da maneira deturpada de olhar o mundo globalizado, praticando um dumping social sem limites, uma ganância desmedida. Rastos espalhados pelos norte-americanos.
- A acrescentar, outros países emergiram, o que possibilitou aos EUA diversificarem os seus mercados de consumidores.
- Por outro lado, agrada aos Estados-Unidos manter o seu dólar mais fraco que o euro, para que não percam a tal mina de ouro europeia para as exportações (ver abaixo). Ainda para mais, não foi pela força do Euro que o dólar deixou de ser a moeda-padrão para outras moedas mais fracas.
- A questão ideológica deixou de ser relevante. E mesmo nesse ponto, aquele que seria o país de "ameaça" vive sinais de auto-implosão e paralisia, nem se podendo considerar sequer o antagonismo do american life-style: a Rússia.
Portanto, espremendo tudo: a UE
tem de se concentrar em resolver as suas questões: mutualizar dívidas nacionais
acima dos 60% do PIB, harmonizar políticas orçamentais e de investimento, união
bancária e garantir um sistema de equilíbrio entre países centrais
competitivos e periféricos pouco competitivos (liberalizar quotas de produção e
pescas nos países do sul, por eg), e, já agora, gerir e fiscalizar a sério a aplicação dos subsídios europeus (e não o desbarato que temos hoje).
Tudo isto para não esperar que a sorte nos caia do céu e que outros resolvam problemas só nossos.