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"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

terça-feira, 30 de abril de 2013

O Papel do Ouro na Crise da Dívida - o Caso do Chipre

Após ter referido o caso Português na minha última publicação, e após ter lido no Diário Económico que o Chipre iria iniciar o processo de alienação das suas próprias Reservas, achei por bem dedicar algum tempo a este caso e aos seus impactos no seio da União Europeia.

Seguindo a mesma lógica do caso Português, começar com alguns factos/dados acerca do Chipre e das suas reservas:
1) As reservas cipriotas, de cerca de 14 toneladas (a 59ª do mundo), têm um valor de cerca de 560 milhões de euros. Isto daria para cobrir qualquer coisa como 5,6% do valor do resgate (10 mil milhões de euros).
2) Estas reservas representam 62% das reservas totais do Banco Central do Chipre, e 3% do PIB (não chega aos 18 mil milhões de euros).
3) Também o Banco do Chipre assinou o Protocolo do Sistema Europeu de Bancos Centrais, o que significa que a venda de reservas de ouro teria de ser concertada pelo SEBC.

Neste caso, a venda de ouro avançou mesmo, o que provocou desde logo uma quebra na cotação do ouro nos mercados financeiros de cerca de 10% (a 15 de Abril), o que comprova a teoria (já explicada na publicação anterior) de que a venda de ouro iria colocar em causa o seu próprio valor, já que coloca pressões de desvalorização nos mercados. Também na publicação anterior referi que a alienação de reservas colocaria pressões de apreciação do Euro (conducentes a pressões inflacionistas), dada a recolha de Euros durante este processo. O que então ficou por explicar é o porquê. É que (muito provavelmente) países centro-europeus que não se encontram em crise (Alemanha, França, Escandinávia, quiçá o BCE) iriam exercer pressões para serem eles próprios a adquirir estas reservas, impedindo-as de serem transferidas para a China ou mesmo os EUA, reforçando as suas próprias reservas.

No entanto, esta situação do Chipre coloca ainda um outro problema (mais de índole política que económica): cria um precedente. Isto pode querer dizer que a médio prazo pode ser exigido aos demais países sob resgate que façam o mesmo e vendam as suas reservas de ouro. Isto poderá agravar as pressões de desvalorização do ouro, bem como todas as demais consequências já enumeradas.