À conta do ilustre Instituto Superior de Economia e Gestão (e do meu bolso...) consegui ter duas semanitas de férias por volta da Páscoa, ao invés de muitos outros colegas de faculdade. Estas férias incluiram 5 dias que amanhã terminam em Frankfurt na Alemanha.
Ontem, dia 5 de Abril de 2013, passei a tarde no muy nobre Banco Central Europeu (BCE), acompanhando (após um excelente almoço!) três sessões com Niels Bünemann (dinamarquês, Principal Press Office do BCE - "The ECB institutional set-up and its response to the crisis"), Ralph Setzer (alemão, EU Countries Division - "Macroeconomic Imbalances in the Euro Area") e Vítor Constâncio (português, Vice-President of ECB - Backround talk, onde deu uma perspectiva historico-económica da UE).
As sessões tiveram o seu quê de interessante, mas não foi isso que me levou a escrever no auditório enquanto ouvia o Vice-Presidente do BCE. O que me levou a escrever um rascunho deste texto na hora no bloco que me disponibilizaram foi a coerência das instituições europeias, em particular do BCE e dos seus funcionários. Assim, alguns padrões e ideias retirados da tarde:
1) O BCE fará tudo o que estiver ao seu alcance para superar a crise (dentro dos limites do seu mandato) - frase proferida por Mario Draghi e diversas vezes citada.
2) A supervisão/regulação bancárias efectuadas pela UE (por via do BCE) resolverão todos os problemas da banca.
3) Manter uma inflação estável a 2%/ano irá potenciar o crescimento (no longo prazo).
Estas três ideias pareceriam interessantes, não fossem as mensagens subliminares deixadas pelos intervinientes durante a tarde, a saber:
1) O BCE continua cegamente a acreditar que a crise é economico-financeira, quando já se verifica uma espiral social da mesma. Além disso, parece que pensam que a crise não passa de um jogo de Monopólio que mais tarde ou mais cedo se irá solucionar.
2) Se olharmos para a missão do BCE com atenção, vemos que tudo o que estiver ao seu alcance é tão vasto como o meu salário mensal actual... (sabendo que ainda pertenço à população inactiva...)
3) Os senhores de Frankfurt (e aposto que se passará o mesmo em Bruxelas) acham que vir a Portugal (e aos restantes estados intervencionados) reunir com os executivos é suficiente para tomar contacto com a realidade do país. Como é de esperar, estes senhores estão redondamente equivocados e não fazem a mínima ideia do que se passa no quotidiano das populações.
Assim, considerando todos estes factos na mesma equação (e pondo de parte as questões domésticas de cada país) rapidamente se conclui que não será a UE ou o BCE a encontrar a solução para a crise em que nos encontramos.
(escrito no auditório do BCE)