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"Quod non est in actis, non est in mundo" ("O que não está escrito, não existe")

quinta-feira, 11 de abril de 2013

O impacto do salário mínimo - Parte I

Artigo seguinte desta série: O impacto do salário mínimo - Parte II
(muito mais interessante)

Seguindo este meu artigo sobre o debate do salário mínimo, vou discutir o impacto do salário mínimo no mercado de trabalho e na economia mostrando duas perspectivas sobre o assunto, a neoclássica e a keynesiana, e termino com a minha própria.

Começo com a perspectiva neoclássica defendida pelo Pedro Cosme Vieira neste artigo. O ponto central desta teoria é que qualquer aumento no salário acima da produção marginal (produtividade) gera desemprego.

Ele não a apresenta na sua maneira mais convencional, mas recorrendo às suas fundações micro. Partindo de uma função de produção (Cobb-Douglas) com rendimentos decrescentes à escala, derivamos uma função de procura de trabalho, e mostramos que o número óptimo de trabalhadores é aquele faz com que a produtividade marginal do trabalho seja igual a Salário/Preço (do bem produzido).

Vamos estender  este raciocínio para incluir uma função de oferta de trabalho, que é derivada de uma função de utilidade, e mostrar as duas funções no mesmo gráfico, com elas a depender apenas dos salários:
Gráfico roubado a ladrões.

Onde as duas rectas se cruzam, temos o salário que elimina o desemprego no mercado. Ao fixar um salário acima do salário competitivo, há mais pessoas dispostas a trabalhar, pelo que a oferta aumenta; e a procura de trabalho diminui, porque para continuar a maximizar o lucro, a mão-de-obra é substituída por capital ou então a empresa produz menos.

Para Cosme Vieira, o problema é este: o salário mínimo gera desemprego. No artigo dele, ele apenas referiu a diminuição da procura, mas o caso também pode incluir a oferta.


Aqui represento o outro lado do debate sobre o salário mínimo nacional com este artigo do Alexandre Abreu dos Ladrões de Bicicletas.

O raciocínio evolui como se segue: ao aumentar o salário mínimo, aumentamos o rendimento disponível das pessoas, pelo que elas irão despender esse rendimento aumentando o seu consumo, e como consequência as empresas irão aumentar a sua procura por trabalho, para fazer face ao aumento da procura por bens e serviços.

Dependendo dos parâmetros, o aumento do salário mínimo pode aumentar a procura de trabalho ao ponto de eliminar o desemprego.

Mais um gráfico roubado a ladrões.

O que o Alexandre Abreu faz, e muito bem, é relembrar que o aumento do salário mínimo tem efeitos que não acabam na redução imediata da procura de trabalho. No final do dia, o aumento do salário mínimo não gera tanto desemprego quanto isso, e nas condições certas pode até diminuí-lo.


Apesar de nunca referirem as publicações de um e do outro, acredito que estes blogues tomam atenção a um e ao outro, e suspeito que este artigo do Cosme Vieira é uma resposta ao Alexandre Abreu. Independentemente de que seja esse o caso ou não, ele tenta rebater este raciocínio com um argumento semelhante à treasury view: um euro dado aos trabalhadores, é um euro retirado às empresas, pelo que no total a alteração é nula.

Assim, o aumento do consumo é contrabalançado pela diminuição do investimento, pelo que a procura do trabalho permanece inalterada, e assim devemos assistir a um aumento do desemprego.

No próximo artigo vou apontar os erros nestes raciocínios e a minha posição sobre o salário mínimo.